Desde que publiquei um poema inédito de Mario Quintana, sigo recebendo mensagens de fãs do poeta. Divido uma delas contigo.
Por e-mail, a leitora Vera Lúcia da Silva Moraes me contou que a mãe dela, Marietina Oliveira da Silva, 96 anos, mantém até hoje - com orgulho - uma linda lembrança em sua casa, em Porto Alegre. Liguei para Vera para ouvir o relato, que transcrevo a seguir.
Aos 16 anos, Marietina - hoje mãe de duas filhas, Vera Lúcia e Ana Maria, e viúva de Rubem Antonio da Silva - trabalhava na saudosa Livraria do Globo e tinha contato com grandes escritores, entre eles, Quintana.
À época, havia uma prática comum, hoje fora de moda: as pessoas costumavam entregar cadernos aos conhecidos para que deixassem pequenas mensagens. Um dia, quando Quintana passou por Marietina, ela tomou coragem e perguntou:
— Seu Quintana, o senhor pode escrever um recado para mim?
O poeta levou o caderninho embora e o devolveu dias depois. Quando Marietina correu os olhos até a página destinada ao mestre - como relata Vera Lúcia -, levou um susto com o que viu.
— Ele havia escrito um poema para ela. Minha mãe guarda esse álbum com muito cuidado e sempre mostra para as visitas — ressalta Vera.
Abaixo, transcrevo os versos ternos redigidos à mão, sem ter a certeza se vieram, algum dia, a ser publicados em livro.
Foram-se abrindo aos poucos as estrelas…
De margaridas, lindo campo em flor!
Tão alto o céu!... Pudesse eu ir colhê-las…
Diria alguma se me tens amor…
Estrelas altas! Que se importam elas?
Tão longe estão!... Tão longe deste mundo…
Trêmulo bando de distantes velas
Ancoradas no azul do céu profundo…
Porém meu coração quase parou,
Já foram voando as esperanças minhas,
Quando uma, dentre aquelas estrelinhas,
Deus a guie! Do céu se despencou…
Com certeza era o amor que tu me tinhas
Que repentinamente se acabou!
Mário Quintana