Graças ao Prêmio Profissionais da Música (PPM), este ano em sua sétima edição, passei quatro dias em Brasília ao lado de gente da música do Brasil inteiro. Foram dias intensos, com shows, oficinas, painéis, palestras, laboratórios, lançamentos de livros e muita troca de ideias e afetos. Só ter convivido com a lenda viva Lia de Itamaracá já valeria um mundo. Ô sorte! Mas teve mais. Conversas com Roberto Menescal, Paulo André (o cara que produziu Chico Science e idealizou o festival Abril pro Rock), os compositores Thomas Roth, Edson Natale, Benjamim Taubkin, estes dois velhos amigos. Com a cantora e agitadora Socorro Lira e a jornalista, cantora e editora Chris Fuscaldo (autora de livros sobre Mutantes e Belchior), novas amigas de fé.
E mais e mais pessoas que vinham conversar nos dias e noites, como Pâmela Amaro e as gurias do 50 Tons de Pretas, os catarinenses John Mueller e Ana Paula da Silva, que eu conhecia pelos discos, assim como a maranhense Sandra Duailibe. E mais e mais. Enfim, quatro dias dos quais saí “tão habitado que pareço um mar”, como diria o poeta Nei Duclós. Porque uma das “abas” do Prêmio Profissionais da Música é essa: oportunizar encontros entre artistas, produtores, técnicos, professores, designers, jornalistas, de todas as áreas envolvidas pela música. Vale lembrar que o 7º PPM adotou um, digamos, lema: “Temos um país a reconstruir. Viva a cultura popular!”. Muitas manifestações nos debates foram nesse sentido: reconstruir.
O lema deu título ao painel inaugural, do qual participei ao lado de Menescal, Taubkin, Roth e Lia de Itamaracá, com mediação do jornalista Julio Maria, biógrafo de Elis Regina. Entre os temas de outros painéis estavam a cultura popular, os festivais, a imprensa musical, a importância das editoras musicais, o aprendizado, os novos campos de trabalho no metaverso e web 3.0, e a inteligência artificial, incluída em três palestras que despertaram especial curiosidade. As noites de premiação levaram grande público ao auditório do Museu da República, um dos mais belos prédios da cidade. Nelas foi destacada a trajetória dos quatro homenageados, Lia, o também lendário reggaeman brasiliense Renato Matos, Chico Science (in memoriam) e este colunista.
Em seu show, no sábado, Lia instalou a alegria. Parte da plateia não resistiu e foi dançar na frente do palco e nos corredores do teatro. Foi emocionante mesmo, inesquecível, ver e ouvir aquela negra alta e magra, sempre com vestidos coloridos, cantando suas cirandas. Depois do show eu disse isso a Gustavo Vasconcellos, idealizador e coordenador do PPM, agradecendo a ele pela oportunidade única de participar de tudo aquilo. É um verdadeiro acontecimento pautado pela diversidade e a pluralidade, uma afirmação da potência da música brasileira, com organização exemplar e contagiante alto astral de toda a equipe. Foram quatro dias de estresse zero. E ainda pude passear um pouco por Brasília, vendo-a agora com outros olhos.
Os gaúchos premiados
Não tenho como dar os nomes de todos os premiados, fico com os gaúchos: Alexandre Fritzen da Rocha, Andréa Perrone, Arthur de Faria, Carlos Badia (pelo Bento Jazz & Wine Festival), Paloma Pitaya, Rafael Hauck (pelo Studio Áudio Porto/Fábrica do Futuro), Thiago Ramil e 50 Tons de Pretas (Graziela Pires/Dejeane Arruée). Mas vários outros estavam participando, entre eles Marcelo Fruet, Pâmela Amaro, Chris Amoretti, Anderson Prestes, o duo Vilton e Nórton, José Daniel dos Santos (do Latino América Duo, autor da biografia de Lúcio Yanel), Militão Ricardo e Clarissa Ferreira (que autografou seu elogiado livro Gauchismo Líquido). A programação do Prêmio Profissionais da Música teve vários lançamentos de livros e conversas com os autores.
É assim: depois de se inscrever e passar pela seleção, os concorrentes chegaram a Brasília e encontraram o panorama que descrevo, sublinhado pela hospitalidade dos brasilienses. Dos 2.149 concorrentes inscritos, saíram 842 finalistas e 165 ganhadores dos prêmios escolhidos por mais de cem mil votos pela internet. O número de premiados se justifica pela multiplidade das categorias. Para começar, muitos destaques são regionalizados, por exemplo: melhores compositores, intérpretes, instrumentistas, arranjadores etc. das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Há uma premiação por gêneros: MPB, choro, forró, sertanejo, blues, rock, jazz, gospel, erudito... Também engenheiros de som, produtores de várias áreas (discos, shows, eventos), empresários, autores de livros sobre música, professores, cursos técnicos, enfim.
Os interessados em conhecer toda a programação e premiação podem entrar na página da premiação. E as gravações estão no YouTube.