Se você é ligado em rock e cultura pop, já deve ter tomado conhecimento de Nova Carne para Moer, quinto livro de Cristiano Bastos. Então, este texto se dirige a quem tem os mesmos interesses, mas na pandemia se distraiu um pouco. Dirige-se também aos que gostam da MPB. Interessará ainda a quem curte personagens “malditos”, ídolos de massa, mitos locais e globais do século 20 com um pé no 21.
Por outro lado, não deixa de ser um livro de História. Traz uma seleção de 27 reportagens, entrevistas, perfis e artigos publicados entre 2001 e 2019 em diversos veículos da imprensa brasileira, especialmente a Rolling Stone. São dessa revista os dois primeiros textos do livro, definitivos, sobre Raul Seixas e sobre o lendário disco Paêbirú, de Zé Ramalho e Lula Côrtes, reportagens ricas em informações e impressões pessoais. Você começa e não larga mais.
Formado em 2000 pela PUCRS, Cristiano optou pelo jornalismo cultural e se tornou nacionalmente conhecido no meio, encontrando nos livros outra saída para sua incessante inquietação/produção. O novo livro chega depois do experimental (e hoje clássico) Gauleses Irredutíveis – Causos & Atitudes do Rock Gaúcho, de 2001, com outros parceiros. Depois, vieram as biografias Julio Reny – Histórias de Amor & Morte (2015), Júpiter Maçã: a Efervescente Vida e Obra (2018) e Nelson Gonçalves – O Rei da Boemia (2019). Atualmente, trabalha em 100 Grandes Discos do Rock Gaúcho, que planeja lançar em três volumes a partir do início de 2021.
Mas como eu ia dizendo até me interromper, Nova Carne explicita o talento de Cristiano para o jornalismo cultural investigativo. A reportagem sobre a construção do disco Acabou Chorare, dos Novos Baianos, influenciada por João Gilberto, é fantástica.
O mesmo vale para o texto que trouxe à tona a esquecida gravação no Rio de Janeiro do disco Native Brazilian Music, pelo maestro Leopold Stokowski, em plena Segunda Guerra. O que dizer do resumo sobre Os Replicantes? E do ensaio sobre perversão e arte? Nas entrevistas “psiquiátricas”, Zé Ramalho, Caetano, Sérgio Mendes, Alceu Valença, Júpiter Maçã, Baby do Brasil, Glauco Mattoso, Décio Pignatari. Mais: Jimi Hendrix, Marc Bolan, Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, Plato Divorak, a modelo Gia Carangi (!), Romário (!!), Dyonélio Machado (!!!).
Tudo escrito com paixão. Cristiano Bastos é daqueles imprescindíveis. Ele pensa e faz. Ah, sim: a expressão “nova carne para moer” tem a ver com uma brincadeira da turma dele na época da faculdade.
NOVA CARNE PARA MOER, de Cristiano Bastos
- Zouk Editora, 260 páginas, R$ 56 nas livrarias e em editorazouk.com.br