Aos 78 anos, Ney Matogrosso mantém praticamente as mesmas formas vocal e física dos 32, quando teve início seu sucesso com o Secos & Molhados. São impressionantes 46 anos de estrada musical, sempre no topo, lotando teatros pelo Brasil.
Bloco na Rua, o novo disco, 33º da carreira solo, é a materialização do show de mesmo nome que estreou em janeiro do ano passado. Lançado em novembro no formato digital, chega agora em CD duplo e daqui a pouco em DVD, gravados ao vivo no palco do Teatro Bradesco do Rio, sem plateia — a qualidade técnica é de estúdio. Os sete músicos da competentíssima banda deitam e rolam.
Mesmo com músicas em maioria já cantadas e/ou gravadas por Ney, não é um show/disco de clima retrospectivo. O roteiro, e isso já é notório, instiga o público a também pensar, em vez de só se divertir e dançar — o que sua figura fantasiada e andrógina pode pressupor. Várias canções têm forte componente sócio-político-crítico, como O Beco (dos Paralamas do Sucesso), Álcool (DJ Dolores), O Último Dia (Billy Brandão), Inominável (Dan Nakagawa), Coração Civil (Fernando Brant/Milton Nascimento), Tem Gente com Fome e Mulher Barriguda (ambas de João Ricardo/Solano Ribeiro, do repertório do Secos & Molhados).
Os trabalhos são abertos pela “carnavalesca” Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua (Sérgio Sampaio), seguida do rock Jardins da Babilônia (Rita Lee/Lee Marcucci). Tem Pavão Mysteriozo (Ednardo), Tua Cantiga (Chico Buarque/Cristovão Bastos), A Maçã (Paulo Coelho/Raul Seixas), Yolanda (Pablo Milanés), Ponta do Lápis (Rodger Rogério/Clodo Ferreira), Já Que Tem Que (Alzira E/Itamar Assumpção), Sangue Latino (João Ricardo/Paulinho Mendonça) e, entre outras, Como 2 e 2 (Caetano Veloso), que Ney nunca havia cantado e é a mais antiga do disco, de 1971. A mais recente, Inominável, é de 2019.
A banda, sim, a banda: Sacha Amback (arranjos, teclados), Marcos Suzano e Felipe Roseno (percussão), Maurício Negão (guitarras), Dunga (baixo), Everson Moraes (trombone) e Aquiles Morais (trompete).
BLOCO NA RUA
De Ney Matogrosso
- Som Livre, álbum duplo R$ 49,90.
Aplicativo gaúcho tem um milhão de downloads
Com mais de um milhão de downloads ao redor do mundo, o MobiDic Guitar Chords, aplicativo desenvolvido em Porto Alegre em 2014 (iOS) e 2019 (Android), é sensação entre violonistas e guitarristas. Criado pelo desenvolvedor de software Pedro Lima (foto) e pelo músico Dinho Oliveira, trata-se de um dicionário interativo para celular com cerca de cinco mil acordes para violão e guitarra, ilustrados com as respectivas fotos. “Fiquei impressionado pela clareza e a amplitude do MobiDic”, escreveu Yamandu Costa. “Resolve em segundos questões que levamos anos para desvendar”, confirma o respeitado violonista Nelson Faria.
Pedro era aluno de violão de Dinho e, a partir dos temas das aulas, teve a ideia de criar uma ferramenta em forma de aplicativo que ilustrasse rapidamente a construção dos acordes e permitisse ao usuário ouvir sua sonoridade – o MobiDic tem som realístico. Disponibilizado nas lojas Apple Store e Google Play, foi sucesso instantâneo. Fábio Carrilho, do portal Violão Brasileiro, escreveu: “Chama a atenção pela simplicidade de uso e leveza de operação, sendo de grande utilidade como ferramenta pedagógica e de aprendizagem, inclusive para músicos experientes”. O dicionário está disponível também no site mobidic.com.br
Antena
NAS ONDAS DA NOITE
De Celsinho Silva
Há 40 anos integrante do grupo Nó em Pingo d’Água, há 23 tocando com Paulinho da Viola, presente em gravações de muitos grandes nomes do samba, o percussionista Celsinho Silva toda vida sonhou em cantar e fazer seu próprio disco. Que, finalmente, chegou. Nas Ondas da Noite, título também da faixa de abertura (um belo e pouco conhecido samba de Paulinho), conta com uma seleção de craques que vai de Cristovão Bastos a Mário Sève, Rogério Caetano, Luciana Rabello, Maurício Carrilho, Rodrigo Lessa, João Camarero, João Lyra, o gaúcho Luís Barcelos e muitos mais.
Além de quatro sambas seus de refinada concepção (em parcerias com Paulo César Pinheiro), Celsinho selecionou músicas de Cartola (Corra e Olhe o Céu), Zé Keti (Máscara Negra), Noel Rosa (a rara Quando o Samba Acabou), Dona Ivone Lara/Mano Décio (Agradeço a Deus), Luciana Rabello (Sem Pedir Licença) e, entre outras, uma inédita de seu falecido pai, Jorginho do Pandeiro (Copa 5 ou Copa 6). Ele tem uma voz limpa, canta com naturalidade e segurança. Ótimo disco, uma verdadeira festa de samba clássico.
SEGREDOS DE VERA CRUZ
De Gianluca Littera & Gil Jardim
Gravado em 2012, só agora vem à tona este álbum que reúne o italiano Gianluca Littera, virtuose da harmônica cromática de boca (gaita), e a Orquestra de Câmara da Escola de Comunicações e Artes da USP — mais conhecida como Ocam. Apaixonado pela música brasileira, o gaitista tem uma consagrada carreira internacional tocando música clássica e jazz, se tornou conhecido também pela participação em trilhas de cinema do compositor Ennio Morricone.
Com 25 anos de existência, a Ocam é dirigida desde 2001 pelo maestro Gil Jardim, sendo considerada a principal orquestra brasileira ligada a uma universidade. Mesmo que mude permanentemente de formação (em torno de 40 integrantes), a sonoridade da Ocam é fantástica, como se pode saber aqui. O repertório tem, entre outras, Flor de Lis (Djavan), Beatriz (Chico Buarque/Edu Lobo), As Rosas Não Falam (Cartola), Beija-Flor (César Camargo Mariano), Vento em Madeira (Léa Freire), Segredo (Herivelto Martins/Marino Pinto) e Vera Cruz (Milton Nascimento/Márcio Borges). O texto do encarte resume a história da orquestra e deste encontro.