Mário Barbará tinha 21 anos quando em 1975 venceu a 5ª Califórnia da Canção Nativa com a toada Roda Canto, em parceria com o poeta Apparício Silva Rillo. No ano seguinte, teve três músicas entre as 12 finalistas, tendo Ventania, também com Rillo, conquistado o troféu da Linha Campeira. Já aí começou a ser visto com um fenômeno. Poeta consagrado, Rillo falava dele como talvez a maior revelação da música regional gaúcha, pela facilidade e o talento com que compunha. Nos anos seguintes, mais prêmios e músicas como Colorada, Era Uma Vez e Couro Cru.
Antes de Desgarrados, em 1981, sublinhar para sempre sua importância na história dos festivais, Barbará deixou sua São Borja para uma temporada em Porto Alegre, onde encontrou o grupo pop Saracura e o poeta Sergio Napp, autor da letra dessa música que conta hoje com dezenas de gravações. O show Barbará & Saracura foi um dos grandes sucessos da época, popularizando canções como Velhas Brancas e Xote da Amizade, esta escolhida para abrir o primeiro disco do grupo, que tinha Nico Nicolaievsky entre os integrantes.
Mas fora o talento espontâneo e a simpatia, o que fazia a diferença de Barbará para a maioria dos participantes dos festivais? Sua música ia além do regionalismo, ele nunca se prendeu a fórmulas, compunha uma milonga e uma marcha-rancho com a mesma naturalidade. Na Califórnia, trafegava livremente pelas linhas campeira, de manifestação rio-grandense e de projeção folclórica. Não entrava em discussões sobre ser mais ou menos "autêntico". Por isso era universal, por isso nada de sua obra se desgastou com o tempo.
Penso que no futuro Barbará será ouvido/entendido mais como um compositor de música brasileira do que de música redutoramente gauchesca. Sua obra ultrapassa a questão regional. Poucos conseguem isso com tanto vigor. Também o canto dele era único, suave, leve, sem contrastes. Tudo que digo pode ser conferido no DVD Desgarrados, produzido por seu discípulo Chico Saratt em 2017, com pegada pop e participações de músicos de diversos gêneros. Fica como uma de suas heranças.
Boa viagem, Marinho.