Afetados pela enchente, trechos da malha ferroviária do Rio Grande do Sul devem demorar anos para serem recuperados. Ao todo, 800 de 1,7 mil quilômetros deverão passar por intervenção. Além disso, até cinco pontes e viadutos utilizados pelos trens precisarão ser refeitos.
As regiões mais afetadas ficam no Vale do Rio Pardo, no Vale do Taquari e na Serra. Não há como uma carga que está no Rio Grande do Sul chegar, por trem, até Santa Catarina.
A projeção indica que o investimento deverá passar de R$ 3 bilhões. O grande problema é que a concessão termina em fevereiro de 2027. A empresa Rumo Logística é a responsável pela administração do trecho.
Se a empresa fizer esse investimento, ela precisaria ser ressarcida. Dessa forma, o contrato precisaria ser prorrogado ou o governo federal poderia fazer um repasse financeiro para a administradora da linha férrea no Rio Grande do Sul.
Antes mesmo da enchente, a malha ferroviária gaúcha já estava defasada, ultrapassada e sucateada. A largura dos trilhos no Estado é diferente e as rampas são mais íngremes.
A discussão que está sendo feita com a Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) é se vale a pena reconstruir linhas subutilizadas. Elas foram construídas há mais de 100 anos. A opção seria fazer novos traçados, mais viáveis economicamente.
Se o governo optar por terminar a atual concessão e prever a reconstrução ou novas linhas a partir de uma nova contratação, os trechos totalmente ou parcialmente bloqueados ficarão do jeito que estão por mais dois anos e meio. Entre os interessados, a concessão do trecho gaúcho é vista como pouco atrativa.
Procurada pela coluna, a ANTT não se manifestou sobre o assunto. Já a empresa Rumo informou que o trecho operacional no Rio Grande do Sul fica entre Cruz Alta e o Porto de Rio Grande.
"Dada a complexidade e abrangência da situação, ainda não é possível estimar prazos sobre os procedimentos necessários. A empresa segue em diálogo com o Governo Federal (poder concedente) e demais autoridades competentes do setor para avaliação conjunta do cenário", diz a empresa por meio de nota.
Trechos afetados
- Tronco Sul: sai do Pátio Industrial em Canoas até Lages (SC) e de lá para São Paulo (túneis fechados na Serra)
- Ferrovia do Trigo: de Roca Sales até Passo Fundo (estragos entre Muçum a Guaporé)
- Ramal que sai do Pátio Industrial em Canoas para Santa Maria (estragos em Rio Pardo)
30 anos
Desde 1997, o trecho gaúcho é de responsabilidade da iniciativa privada. Até 2015 o controle era feito pela América Latina Logística (ALL). A empresa foi comprada pela Rumo Logística, que assumiu a responsabilidade da operação. O trecho gaúcho está dentro da Malha Sul, que possui 6,5 mil km também em Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Só no RS, dos 3,2 mil km de linhas e ramais ferroviários, cerca de 1,5 mil km foram desativados ou suspensos ao longo das décadas.