Em pouco mais de dois meses, Porto Alegre precisou contar com o sistema de proteção contra as cheias. Ele foi construído na década de 1970 e é composto por 14 comportas de metal, além do muro da Mauá, que complementam uma barreira de 24 quilômetros de diques externos e internos, amparados por 23 casas de bombas elétricas que devolvem a água ao estuário.
E, em menos de um mês, o governo do Estado vai realizar o leilão para repassar o Cais Mauá para a iniciativa privada. Dentre as ações está a que permite a derrubada de 750 metros do muro - do fim da linha do Trensurb até a Usina do Gasômetro.
A nova proteção contra as cheias prevê uma contenção fixa de 1m26cm - um piso elevado, que permite o passeio. Ela será construída entre o Guaíba e os armazéns. Quando for necessário, uma barreira móvel - de 1m74cm - será instalada por cima, fazendo com que se atinja a marca de 3 metros - mesma altura do muro.
Como a elevação do Guaíba atingiu 46cm acima da cota de inundação, na terça-feira (21), o novo sistema ainda teria 80 centímetros de margem de segurança, sem a necessidade de uma instalação móvel.
- O sistema que foi estudado e previsto no edital teve sua viabilidade avaliada por especialistas do IPH. A preocupação sobre a possibilidade de cheias sempre esteve presente na fase de estudos. Tudo foi tratado de forma técnica, considerando os pareceres de especialistas na área - destaca o secretário estadual de Parcerias e Concessões, Pedro Capeluppi.
Além disso, Capeluppi ressalta que a proteção sugerida pelo governo irá proteger os armazéns dos alagamentos. Hoje, isso não acontece. Toda vez que o Guaíba passa a cota de inundação, a água invade também o Cais.
A derrubada do muro também é vista como possível por especialistas, desde que sua altura - de 3 metros - seja contemplada.
"O muro da Mauá pode ser substituído, desde que seja garantido no mínimo o mesmo grau de segurança que temos hoje (incluindo a consideração de operação e manutenção periódicas). Caso haja redução no grau de proteção, alguém deverá se responsabilizar pelos riscos decorrentes, arcando com as perdas e danos eventualmente causados por inundações", defende o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS.
Não é só a altura que deve ser obedecida. Outras vulnerabilidades devem ser consideradas, "incluindo a consideração de operação e manutenção periódicas".
- No caso de estruturas móveis, a operação e manutenção podem trazer vulnerabilidades extras, reduzindo o grau de segurança. A solução adotada deve ser analisada de forma criteriosa quanto ao seu grau de segurança. São questões logísticas, que envolvem armazenamento, transporte, manutenção, treinamento, montagem e desmontagem periódicas (no mínimo uma por ano), entre outras atividades - ressalta o diretor de IPH, professor Joel Goldenfum.