Elas estão ficando no passado. As estações rodoviárias estão se tornando obsoletas. O problema não é tão recente, mas o agravamento, sim.
De acordo com o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), de 2020 até agora 28 terminais fecharam as portas no Rio Grande do Sul. Porém, a queda vem ocorrendo desde 2013.
Em 2012, o número de estações rodoviárias ativas chegou a 294. Reduziu para 282 no ano seguinte. E, em 2022, chegou a 174.
O principal motivo do fechamento é a queda na quantidade de passageiros transportados. Em 2015, por exemplo, 45 milhões de pessoas passaram pelos terminais de ônibus. Em 2019 - antes da pandemia - caiu para 33 milhões. E no ano passado chegou a 11 milhões. A queda foi de 75%.
Como a demanda diminuiu expressivamente, as receitas encolheram da mesma forma. Em raros casos, os terminais de passageiros têm outra fonte de renda. Alguns têm prédio próprio, chegam a alugar o espaço do restaurante para um, alguma outra loja para outro.
Na venda de uma passagem, 11% do valor é destinado para a estação rodoviária. O montante para despacho de encomendas é um pouco maior: 15%.
E os custos não diminuíram. Mesmo que tenham fechado em algum determinado momento durante a pandemia, a mão de obra - o salário do funcionário - é a mesma. Despesas de tributos também não. O que muda são as taxas que Daer e Agergs (Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul) cobram, que é um percentual sobre o faturamento.
Naquelas estações rodoviárias que ainda resistem, a queda na demanda traz redução de investimento e oferta de serviços, ocasionando em menos movimento e, consequentemente, mais queda no número de passageiros. Ações de socorro pelos órgãos públicos chegam a ocorrer. Porém, num cenário de crise, elas acabam não surtindo efeito a ponto de evitar os fechamentos.
Logo no início da pandemia, por exemplo, o Daer suspendeu o pagamento da taxa de outorga para os contratos que haviam sido licitados recentemente. Horários de funcionamento dos terminais foram flexibilizados. permitindo que fossem abertos mais próximo do horário da chegada dos ônibus e não o dia inteiro.
Sem contar os fatores externos. O transporte clandestino aumenta sempre quando há problemas econômicos. E as prefeituras, mesmo não sendo responsáveis diretamente pelo problema, poderiam se envolver mais.
- Todo mundo quer rodoviária na sua cidade. Mas na hora de fazer o transporte de saúde, por exemplo, as prefeituras, em vez de ajudarem a subsidiar a passagem, fazem elas o transporte dos pacientes com vans, ou contratam quem o faça. Tudo isso enfraquece o sistema de transporte. Onde tu enfraquece um, tu enfraquece outros - destaca Lauro Hagemann, que foi diretor de Transportes Rodoviários do Daer, entre 2015 e 2022.
As empresas de ônibus ainda resistem, pois podem vender a passagem pela internet ou na modalidade comum, diretamente nos veículos. Mas o passageiro sofre com a falta de um local propício para desembarque. A chuva, o frio, a dificuldade para conseguir um táxi, tudo isso entra na conta.
Se pouco ou nada for feito, estações rodoviárias serão como os orelhões. Lembranças do passado, que não sobreviveram às mudanças.