O trem passou e o Rio Grande do Sul não embarcou. O descaso com as ferrovias gaúchas é tanto que há algum tempo não há nem promessa efetiva para o setor.
Dentre os motivos, a falta de articulação política é uma delas. Com poucos recursos para destinar para obras de infraestrutura, o governo federal investe onde percebe maior engajamento de parlamentares e da comunidade.
Os poucos deputados federais que tratam do assunto não conseguiram convencer os presidentes Lula, Dilma e Temer. Eles também não estão tendo muito êxito com Bolsonaro.
Recentemente, o Ministério da Infraestrutura anunciou propostas para dois novos segmentos de ferrovias no sul do Brasil, que deverão gerar investimento de R$ 21,45 bilhões. Ambos estão localizados no Paraná.
A única proposta que envolve os gaúchos, indiretamente, é a prorrogação antecipada do contrato com a empresa Rumo Malha Sul, por mais 30 anos. O vínculo atual se encerra em 2027. A empresa administra mais de 7 mil quilômetros de trilhos de São Paulo ao Rio Grande do Sul.
Nesta prorrogação, existe a possibilidade que ampliações possam sair do papel, mas nada irá ocorrer antes de 2023. Uruguaiana e São Luiz Gonzaga são regiões que poderão ser contempladas com a volta das operações, segundo a Rumo Malha Sul.
Segundo o Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul, atualizado em julho de 2020, o Brasil tem aproximadamente 30 mil quilômetros distribuídos pelas regiões sul, sudeste, centro-oeste e nordeste. Desse total, 3.259 está em solo gaúcho. Porém, poucos são operacionais, ou seja, fazem ligações entre cidades distantes que justificariam seu uso.
Com investimentos maciços beneficiando o transporte rodoviário nas últimas décadas, as ferrovias brasileiras foram sendo esquecidas com o passar do tempo. A participação do modal na distribuição de transportes é de aproximadamente 15% no Brasil e 6% no Rio Grande do Sul.
"No entanto é considerado por planejadores e técnicos do setor de transportes, um elo essencial da cadeia logística do transporte de cargas, com grande potencial para crescimento, desde que conectado adequadamente aos demais modais", informa o atlas divulgado pela Secretaria Estadual de Planejamento, Governança e Gestão.
Como cada vez mais nossa produção está passando pelo asfalto e não pelos trilhos, o Rio Grande do Sul fica à mercê de protestos como os registrados em 2018 e, mais recentemente nos últimos dias, mesmo que em menor escala.
Em 2015, durante discussões sobre ampliação da Ferrovia Norte-Sul, que pelos investimentos deveria se chamar Ferrovia Norte-Até Santa Catarina, havia previsão de ligação de 834 quilômetros, de Chapecó, em Santa Catarina; até Rio Grande, passando por Frederico Westphalen, Palmeira das Missões, Cruz Alta, Santa Maria e Pelotas. Para variar, nada disso foi realizado.