Antes mesmo de assumir a presidência, Jair Bolsonaro criticava os pardais. Publicamente, ele dizia defender o fim dos controladores de velocidade nas rodovias federais. Ao longo do seu governo, Bolsonaro seguiu com as críticas.
As declarações soaram como um alerta nos órgão de trânsito e infraestrutura responsáveis pelo uso dos equipamentos. Se antes, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) falavam e davam detalhes abertamente sobre o tema, a partir do fim de 2018, conseguir informações sobre o uso de controladores de velocidade tornou-se tarefa de gincana.
Mas, então, por qual motivo Bolsonaro se tornou o grande defensor de pardais, mesmo que de forma indireta? Nos últimos anos, cresceu a quantidade de equipamentos instalados às margens das rodovias que se assemelham a estes controladores de velocidade. Desde os dispositivos que são de competência da PRF, passando pelo cercamento eletrônico das prefeituras, aos próprios pardais, há diversos deles nas estradas.
Como o governo federal não informa onde estão instalados os controladores de velocidade, os motoristas mais impacientes acabam sendo surpreendidos a todo o momento por pardais - verdadeiros ou não - nas rodovias.
Isso significa que as mortes estão diminuindo? Não. Dados obtidos pela coluna sobre o primeiro semestre de 2021 nas estradas federais gaúchas são assustadores. Houve aumento de 53% na comparação com igual período de 2020. E aumento de 3% se analisados os dados do primeiro semestre de 2019, enfraquecendo a ideia de que a pandemia pode ter impactado nos dados. Para quem diz que 3% é pouco, lembre-se que o Rio Grande do Sul vem de reduções de 20% no número de mortes no trânsito.
Aos poucos, este silêncio sobre pardais está mudando. A juíza federal Diana Wanderlei tem exigido que o Dnit dê esclarecimentos sobre a instalação dos controladores de velocidade nas rodovias federais.
Se seguirmos com essa ideia de que o problema nas nossas rodovias são os pardais, vamos seguir focando errado no combate ao problema. Criticar o uso de controladores de velocidade também não resolve. Os dispositivos devem e precisam ser incentivados. Senão, colecionaremos novos aumentos no número de mortes nas rodovias - algo que parecia estar controlado.