Quem enfrenta mais dificuldades de adaptação? Um empresário brasileiro na Europa ou um alemão em terras tupiniquins. A Fraport, quando desembarcou no Brasil, mais precisamente no aeroporto Salgado Filho, apresentou seu primeiro cartão de visitas.
Em março de 2018, mandou refazer as obras do novo terminal de passageiros. A Infraero já havia investido R$ 30 milhões - sendo que a obra não avançou nem 20% no período de quase três anos. Até se pensou em reaproveitar, mas o custo da correção seria muito maior do que fazer novas obras.
De lá para cá, quem negocia com a Fraport sempre destaca a pontualidade e rigidez dos alemães. Toda essa cobrança tem um resultado. As obras são concluídas no prazo. Até antes.
Porém, o que sempre foi um sonho inalcançável dos gaúchos parecia um pequeno obstáculo nas mãos dos novos gestores. A ampliação da pista do aeroporto, enfim, seria facilmente superada. Nem mesmo a pandemia trouxe consequências mais diretas às obras.
Mas um dos grandes males das obras no Brasil, o reassentamento de famílias, mostrou aos europeus as dificuldades que passam os construtores locais. Desde que assumiu a gestão do terminal, a Fraport pedia a liberação de todo o sítio aeroportuário até dezembro de 2019 para poder entregar a obra, no prazo, em dezembro de 2021.
Quase um ano depois, a maior parte das casas já foi removida. Mas elas ainda obstruem a conclusão dos trabalhos. Ao todo, são 84 delas. Destas, 12 famílias serão transferidas em outubro. Restarão 72. E não há previsão de solução.
A Fraport ainda reluta em adiar o prazo de entrega. Diz apenas que a data da conclusão é incerta. Além de não cumprir uma determinação do contrato, a gestora do aeroporto também teme não ter recursos para a obra depois de dezembro do ano que vem, quando termina o financiamento com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
As ações estão sendo tomadas. Não com a agilidade que os alemães gostariam, mas do jeito que o empresário brasileiro até já se acostumou. Resta aguardar os próximos capítulos desta novela.