A comunicação, ao longo dos séculos, tem se aperfeiçoado continuamente, servindo-se das mais variadas formas de linguagem, desde os primitivos sinais de fumaça, passando pela linguagem dos sinais para suprir deficiências de comunicação, até os dias de hoje.
Os humanos da modernidade fizeram da necessidade de comunicar-se uma compulsão, nunca identificada em outras épocas, e incontrolável quando alguém tem algo que considera importante dizer.
Esta premência sim é antiga, como sugere o achado de, pelo menos um milênio, de uma inscrição no fundo de uma caverna, inscrita numa rocha em que alguém, sem destinação específica, não resistiu em registrar: “Eu estive aqui”.
Séculos decorreram até o bate-papo convencional, que é a forma mais completa de interação entre os humanos porque disponibiliza instrumentos de expressão emocional, como lágrima, sorriso, modulação afetiva da voz, deboche, expressão facial e todas as variantes da linguagem corporal. As dificuldades sempre estiveram relacionadas à distância, quaisquer que fossem as condições. O código Morse e a telegrafia aberta ou cheia de códigos secretos quando a comunicação direta era impossível ou temerária foram soluções emergenciais. E então surgiu o telefone, e a primeira valorização dele foi reconhecer como uma maravilhosa solução quando houvesse urgência.
O grande paradoxo foi a inesperada descoberta que a facilitação extrema de comunicação afastasse as pessoas, o que acabou ocorrendo com a chegada do celular, que deu as caras com a modesta pretensão de ser apenas um telefone portátil e se tornou um escravizador. E só nos apercebemos disso, quando ficou evidente que a nossa liberdade acabou quando o telefone se libertou do cabo que o prendia à parede e passou a perseguir-nos onde quer que fôssemos. E os amigos foram substituídos por seguidores, que têm duas características: se contarem aos borbotões e estarem inalcançáveis quando precisamos deles.
A perda da liberdade foi grandemente compensada pela transformação de um mero instrumento de fala em um sofisticado minicomputador portátil capaz de executar multifunções, inconcebíveis 10 anos atrás. E ninguém se queixará de tantos préstimos oferecidos, gratuitamente, resolvendo em poucos cliques, tarefas que consumiam tempo e esforço, que puderam ser economizados para que você, mantendo-o na mão feito uma algema, possa se divertir com ele, ouvindo música, assistindo filmes ou séries, mandando mensagens ou postando futilidades nas redes sociais em resposta às futilidades que amigos ou seguidores, não resistiram postar de tão interessantes que consideraram. Na verdade, na maioria das vezes, essas postagens servem apenas para assegurar que estamos vivos, não importando quão desinteressante a nossa vidinha seja.
Como as notícias atraentes são raras porque nada consegue ser interessante o tempo todo, surgiram as fake news, numa tentativa desesperada de construir no universo virtual uma “realidade” insaciável, que o mundo real não dá conta.
Na falta de assunto, primeira coisa que se esgota em papo contínuo, pareceu inevitável que cada um falasse de si mesmo, e claro, mostrasse o quanto está feliz, ignorando que ninguém mais acredita em felicidade perfeita, ainda mais, permanente.
Com a intenção de manter todos conectados (vide a cara que se faz quando se anuncia que alguém não tem WhatsApp!), as redes sociais e a legião de solitários encampados por elas trouxeram um clima frenético à comunicação, dando um caráter de urgência ao que é quase sempre supérfluo e irrisório. E algumas implicâncias (previsíveis?) se tornaram aparentes: se você é do tipo que responde imediatamente, porque essa passou a ser a tarefa principal do seu dia medíocre, o mínimo que vai esperar é a pronta reciprocidade. Menos do que isso será entendido como desconsideração.
Mas a geração submetida ao poder escravizante da comunicação instantânea parece feliz por se sentir integrada à infinita rede de desocupados carentes, mesmo que para isso tenha que amiúde parar de mastigar ou interromper o sexo para checar a mensagem recém-chegada, por que, afinal, como saber se não é uma coisa séria?