"Quem já passou por esta vida e não viveu pode ser mais, mas sabe menos do que eu" (Vinicius de Moraes)
Claro que prometer é muito mais fácil do que cumprir e sempre haverá detratores prontos pra relembrar o prometido que não passou da intenção.
Então prometamos, mas para nós mesmos, com o recato de não divulgarmos nossas promessas, até porque o número dos realmente interessados nos nossos planos é muito menor do que em geral fantasiamos, debruçados que estamos numa autoestima que teimamos em conservar.
E temos que admitir que o interesse pelos nossos projetos vai minguando com a sucessão implacável dos aniversários, que conserva nos veteranos a pretensão de sabedoria pura, enquanto nos mais jovens desperta a impressão de que os velhinhos não se conformam com a perda da importância que prenuncia o fim do prazo de validade.
O problema é que esse conflito de percepções nunca será desfeito porque a nossa cabeça enquanto jovem está compreensivelmente possuída pela convicção de imbatível originalidade, e precisamos de décadas de vivência para acumular sapiência capaz de separar realidade de pretensão, num processo a fogo lento que envolve suor, renúncias e, sem concessões, sofrimento.
Não surpreende que a revisita a um acontecimento considerado histórico cause muito menos impacto nos jovens do que provocou à sua época, porque cada conquista sofre ao longo do tempo um desgaste de significado, e, em decorrência disso, os jovens adentram fagueiros a euforia do seu tempo como se tudo já estivesse pronto desde sempre.
Como a marcha da vida não para, os resmungos dos velhinhos serão vistos apenas como o inconformismo dos que não souberam envelhecer.
Então, que ao menos saibamos evitar essa pecha conservando-nos tão ativos que ninguém se atreva a considerar-nos inúteis.
Muitas coisas que não estão nos livros, nós aprendemos só por prestar atenção
Mantermo-nos alinhados ao entusiasmo dos jovens oferece-nos a chance eventual de que eles descubram que muitas coisas que não estão nos livros, nós aprendemos só por prestar atenção, e que essa sabedoria pode ser útil em momentos de dificuldades não catalogadas.
Então, sejamos realistas, abandonemos a tendência de censurar o que parece ousado demais e ofereçamos aos principiantes a parceria que só dá conselhos quando solicitado.
Com esses cuidados e, claro, alguma dose de sorte, quem sabe eles reconheçam que valeu a pena o esforço despendido para pormos a cabeça de fora, sem esquecer que isso sempre exigirá uma boa dose de coragem, que, como aprendemos, é uma tênue faixa de equilíbrio entre a temeridade e a covardia.
E, se isso serviu para nós, quem dera sirva para eles também.