Nós sabemos pouco do por que algumas pessoas vivem mais. Muito mais.
Sabemos muito mais por que tanta gente vive menos. Muito menos.
Mas os trabalhos de grande fôlego como o "Estudo sobre o desenvolvimento adulto", organizado pelo Grupo de Harvard, que acompanhou 724 homens de origens sociais diferentes, durante 75 anos, mostrou que tanto numa quanto noutra situação o fator determinante é a quantidade e a qualidade de relações humanas, sólidas e confiáveis.
Os solitários vivem menos, perdem rapidamente a capacidade cognitiva, provavelmente pela perda da estimulação do convívio, e adoecem mais.
Entre os primeiros octogenários saudáveis estudados, verificou-se que a maioria deles não estava entre aqueles que, necessariamente aos 50 anos, tinham colesterol normal ou perímetro abdominal de bailarino espanhol. Estavam, sim, aqueles que tinham muitas relações sociais, familiares ou comunitárias, alegres e saudáveis.
Esses seres gregários vivem mais, preservam a capacidade cognitiva por mais tempo, adoecem menos e, quando isso ocorre, sofrem menos por terem a parceria de ombros disponíveis.
Em contrapartida, os solitários vivem menos, perdem rapidamente a capacidade cognitiva, provavelmente pela perda da estimulação do convívio, e adoecem mais. E, quando isso acontece, sofrem mais, porque somam a tristeza da doença à desgraça da solidão.
Aí, a gente olha para vida do Arnaldo Costa Filho e percebe que esta longevidade gloriosa foi construída pela parceria dessa legião de amigos que o acompanharam durante a vida toda, seja fazendo medicina esportiva (vale a pena acompanhar a emoção com que ele mostra as fotos do Renner, campeão gaúcho de 1954), seja despertando gratidão no trabalho carinhoso como médico. Ou fazendo da música seu instrumento de aproximação de mais pessoas, que sempre adoraram vê-lo cantar, ou recrutando com afeto genuíno os seus amigos para que compartilhassem com ele a alegria de uma mesa farta e um bom vinho.
Então, os muitos anos que ele já viveu e os tantos que o aguardam no futuro representam uma construção, como uma parede de muitos tijolos, em que cada peça é representada pela conquista de um novo amigo, e de um jeito que ele soube como ninguém torná-los definitivos.
Aprendi a reconhecer a sorte que tive de ter sido agraciado pela amizade fraterna desse tipo amoroso capaz de ligar sem anunciar nenhuma razão, sem convite especial a fazer, simplesmente para saber se a gente continua bem, deixando sempre a sensação genuína de que aquela preocupação é verdadeira, e de um jeito que ninguém consegue simular.
Nosso querido Arnaldo reconhece que seus primeiros 100 Natais foram ótimos, mas não podemos permitir que ele esqueça o que combinamos: de agora em diante, é sua responsabilidade manter este jeito bem humorado de encarar a vida.
Na expectativa de que os interessados percebam a diferença entre viver ou simplesmente durar, e entendam que ninguém se torna um centenário por acaso ou teimosia.