Meu encanto pelos velhos é bem antigo. E com um aumento compreensível na medida em que fui me tornando um deles. Começou lá atrás com meu avô materno, cuja morte trouxe um tipo estranho de orfandade, que em nome da sobrevivência afetiva precisou ser tratada progressivamente pela conquista de avós afetivos, e estes, depois de um tempo, como ocorre com filhos adotivos, se tornaram DNA compatíveis.
O fascínio pela descoberta de um novo avô é tamanho, que não pode ser mantido clandestino. Encontrá-lo é sorte, aproveitá-lo sabedoria, e compartilhá-lo, generosidade.
Como os seres humanos especiais são os únicos que adoçam com a idade, há que lhes render graças e acarinhá-los, e andar de papel em punho para que as suas lições de sabedoria não escorram para a cova rasa do esquecimento. Tenho feito isso, desde o tempo em que fumar era charmoso e ser comunista dava prestígio:
— Os que não se encantam com a maciez do pé de um recém-nascido não estão preparados para serem avós, e talvez nunca venham a estar.
— Antes de aconselhar um velhinho a seguir religiosamente a prescrição médica penosa, convença-se que a vida dele tem utilidade.
“Quando um fanático se aproximar, não azede seu dia, chame um uber.”
— Não se imponha dietas inflexíveis e, uma vez por semana, faça a refeição dos seus sonhos. Lembre-se que até os condenados à morte têm o direito ao banho de sol.
— Não fale do tempo. Ele não vai mudar. Nem os chatos que se interessam por ele.
— Nunca comece uma piada sem ter certeza de que lembra do final.
— Jamais sente em sofás macios. Os outros não precisam saber da sua dificuldade para sair deles.
— Assuma que paixão não tem idade, mas não comente isso com quem é viúvo há 20 anos.
— Não fique com cara de pateta ouvindo as últimas pelos outros. Antecipe-se. Vá atrás delas. Ser porta-voz da novidade fez bem para a autoestima.
— Nunca interrompa a caminhada de um amigo para falar da sua saúde: as oscilações da sua pressão arterial não interessam a ninguém.
— Jamais aceite morar com os filhos só porque ficou sozinho. Nenhuma companhia improvisada compensa a perda da autonomia.
— As pessoas mais fortes são as capazes de viver sozinhas.
— Nossos ouvidos foram concebidos para funcionar 75 anos. Depois disso, é mais inteligente usar aparelho do que ficar pedindo que repitam. Depois da terceira repetida, as pessoas param de olhar para você.
— Cuide dos seus joelhos. A marcha insegura é o indício mais precoce de decrepitude.
— Quando um avozinho parecer deprimido, evite assuntos sérios. Conte uma fofoca pra ele, não há melhor energético na velhice.
— Os fascinados pela rapidez da comunicação virtual nunca apertaram uma carta de amor contra o peito enternecido. Então, seja tolerante com eles.
— Evite queixas e fale dos seus planos, as pessoas precisam saber que você está contente em continuar vivendo.
— Quando um amigo esporádico lhe contar uma coisa interessante, anote. Ele ficará contente se, na próxima conversa, você puxar o assunto.
— Não conte problemas seus para quem não possa ajudar a resolvê-los. A ideia de que o simples relato atenuará suas dificuldades é coisa de psiquiatra. Então, só os discuta com o seu.
— Quando um fanático se aproximar, não azede seu dia, chame um uber.
— Ser for jovem, reverencie o idoso lúcido, e faça dele o seu oráculo particular. E acredite: quando o Google envelhecer, ele se tornará ainda mais sábio.