No aniversário de dois anos de GaúchaZH, colunistas escrevem especialmente para você, assinante, trazendo dicas preciosas.
1) Evite radicalizações: comece assumindo que você não vai conseguir consertar o mundo e que a depressão decorrente da frustração de tentar em vão só vai aumentar a produção de substâncias orgânicas que azedam o humor e aumentam a acidez gástrica.
Como se sabe bem, toda forma de estresse é prejudicial. Então, vamos evitar o gratuito, concentrando-nos em conviver com o inevitável. Ouvir música clássica, por exemplo, é mais inteligente do que buzinar no engarrafamento, assim como manter distância dos fanáticos, esses que, como donos da verdade, habitam uma bolha, impermeável ao diálogo. Evitar os pessimistas tem igual benefício, especialmente porque há evidências que má sorte também se constrói.
Agora que está todo mundo empenhado em viver mais, priorize viver melhor. Talvez a regra mais importante nesta direção seja eliminar, na medida do possível, o convívio com pessoas ou circunstâncias que não lhe tragam prazer. Claro que isso é impossível na fase ascendente da vida, em que estamos criando o nosso espaço no mundo. Guarde esta informação para a maturidade, e saberá que ela chegou quando levantar e ir embora não for mais visto como insubordinação, mas como mera excentricidade.
Não radicalize na alimentação. Coma o que sentir vontade, com moderação. O seu corpo sabe das suas necessidades. Quando sentir uma vontade incontrolável de comer laranja, pode apostar que seu nível de vitamina C está baixo. Não fantasie viver cem anos comendo folhas. Pense na advertência de Ariano Suassuna: na idade média, homens e cavalos viviam 20 anos. Passados estes séculos todos, os homens estão ultrapassando os 80 e os cavalos, com sua dieta capim, seguem vivendo 20 anos.
Tenha hábitos variados, preserve a musculatura, estimule a atividade cerebral e durma bem. Não esqueça que o ronco significa má oxigenação e não ajudará nada na velhice ter sacrificado um monte de neurônios toda a noite mal dormida. Eles farão falta no futuro, que todo mundo só pensa em alongar, sem atentar que a cabeça não pode ser a primeira a morrer.
2) Aumente suas relações pessoais: o famoso trabalho Desenvolvimento Humano Adulto, que acompanha uma população originalmente de 724 homens, foi criado pelo grupo da Harvard University desde quando todos eram jovens, há 75 anos, utilizando prontuários construídos por revisões anuais com a intenção de obter informações confiáveis e, portanto, livres das armadilhas da memória.
Dos 724 participantes originais, 66 ainda estão vivos, todos com mais de 90 anos. A análise dos octogenários revelou dados muito interessantes: a maioria dos que tinham chegado saudáveis a essa idade provecta não eram os que tinham perímetro abdominal de bailarino espanhol ou índices impecáveis de colesterol aos 50 anos: eram os que tinham mais relações pessoais calorosas, familiares e comunitárias.
Enquanto os gregários preservavam mais a atividade cerebral e adoeciam menos, os solitários viviam menos, perdiam a capacidade cognitiva mais cedo, adoeciam mais e, quando isto acontecia, sofriam mais, porque era inevitável que associassem a tristeza da doença com a amargura da solidão.
Seja solidário, previsível e generoso. Essa combinação produz amigos verdadeiros e constrange os interesseiros e oportunistas.
Acredite que ser feliz pode se resumir a dar às pessoas que nos procuram uma alegria que elas não teriam se nós não existíssemos. Confie que só isso já justificará sua passagem por aqui.