É sempre recomendável que mantenhamos a racionalidade na ambição, para que o sonho, tão imprescindível em qualquer conquista, não corra o risco de abraçar o delírio. Ainda que seja preferível o utópico ao pessimista, porque se não acreditar que podemos, quem mais acreditará? O pensamento positivo é o ponto de partida para que qualquer ambição pessoal se realize e possamos festejar o reconhecimento profissional, esta que é a láurea máxima que se reserva, com justiça, aos persistentes.
Talvez ensinar-lhes a confiar eticamente nos seus instintos seja mesmo o nosso maior legado.
Envelhecer prestando atenção nas pessoas e seus comportamentos, saudáveis e previsíveis, ou bizarros e surpreendentes, ensina muitas coisas, mas talvez a lição mais importante seja a descoberta de que somos, em escala individual, do tamanho dos nossos sonhos, e que não resolve transferir aos outros a culpa pela vida mirrada, que resultou da ausência de um projeto claro, que priorizasse objetivos, e dependesse o mínimo possível da sorte.
A busca de afirmação impõe alguns predicados como determinação insubmissa, resistência tenaz para conviver com os inevitáveis fracassos, coragem para manter-se no comando, vontade para atropelar a acomodação e a preguiça, e otimismo para acreditar que tudo vai melhorar, mesmo quando pareça que não. Sem estes atributos restarão estas figuras frágeis que tendo ouvido que suas pretensões eram impossíveis, foram adiante tropegamente só para confirmar que eram mesmo.
Uma parte importante do prazer que sinto de conviver com jovens estudantes está nesta relação meio mágica de se perceber ajudando a quem nem sabe ainda o quanto está precisando. E poder ensiná-los a nunca desistir e então, de repente, aprender que os nossos modelos são apenas modelos nossos, e que ninguém precisa deles para construir uma felicidade que não tem nada a ver com a nossa. A instantaneidade da informação, disponível por infindáveis vias de acesso, obrigou a professor a esquecer os conteúdos ensaiados e a priorizar a inquietude do entendimento. Compartilhar com eles as nossas certezas imediatamente transformadas em dúvidas é o fruto bem-vindo da celeridade da informação, que se festeja como novidade, sem suspeitar que no encontro seguinte poderá ter sido ultrapassada, neste mundo que Zygmunt Bauman chamou de líquido e que, como tal, escorre entre nossos dedos, incapazes que somos de retê-lo.
Vê-los deslumbrados com o novo que se renova cria nos mais velhos a ansiedade de quem gostaria muito de contribuir para que nossas crias sejam felizes. O problema é que sempre pensamos felicidade do nosso jeito, e eles muitas vezes nos encaram como quem nem sabe do que estamos falando. Talvez ensinar-lhes a confiar eticamente nos seus instintos, preservando a coragem de ser otimista, seja mesmo o nosso maior legado. O resto virá do jeito que tiver que vir. E bem ao gosto de quem acredita em Deus.