Fomos concebidos para esperar, e dependendo do nosso teor de credulidade, passamos a vida fazendo isso. E, alguns, apenas isso.
Esperamos que tudo dê certo, que a dor passe, que o amor volte, que o patrão valorize nosso trabalho, que o filho nasça sadio, depois cresça com boa cabeça e faça sucesso, que fale dos pais com orgulho, que aprenda a amar quem lhe ame, e nunca, mas nunca, morra antes da gente.
Esperamos que o nosso time seja campeão, que o país melhore, que os hipócritas se cansem e os dirigentes eleitos o façam por merecer. Que envelheçamos com saúde e que, quando não for possível evitar a biópsia, que a lesão seja sempre benigna.
Esperamos com angústia que o motor não apague na avenida alagada e que os dois tipos que se aproximam da janela quando estacionamos o carro no meio fio sejam apenas brasileiros honestos em busca de uma informação inocente.
Esperamos que Deus use critérios mais compreensíveis de seleção de quem mereça viver e nos poupe da perplexidade de ver pessoas maravilhosas morrendo de acidentes estúpidos e os canalhas envelhecendo com cabelos de uma cor que não existe na natureza e o sorriso assimétrico do botox.
Esperamos que o cinismo seja banido, que a sinceridade prospere e que as pessoas tenham sensibilidade de perceber que é preferível o tosco sincero do que o diplomata mentiroso. Esperamos que os nossos amigos sejam complacentes e relevem nossos rompantes e perdoem as nossas intransigências e grosserias, e em troca prometemos acreditar que eles também melhorarão, mesmo que isso signifique modificar o caráter, e saibamos, desde sempre, o quanto essa expectativa é fantasiosa.
É difícil quantificar o significado da esperança na vida de alguém, mas pode ser o mais poderoso dos nossos frágeis sustentáculos.
No desespero, somos capazes de jurar generosidade no futuro, que convenientemente começará no instante dessa nossa última promessa. Ou seja, agora.
É difícil quantificar o significado da esperança na vida de alguém, mas, dependendo das circunstâncias, pode ser o mais poderoso dos nossos frágeis sustentáculos e que, quando todo o resto se esvai, se transforma apenas numa tênue fibra que mantém o alento balançando sobre o precipício, entre o improvável e o delirante, e que na doença grave, muitas vezes, se apoia no último baluarte do socorro: o milagre divino.
O João Afonso, um parceiro de toda a vida, era um ateu assumido, estava morrendo de câncer e sentia muita dor. Fui visitá-lo e, ao vê-lo sofrendo, com doença disseminada nos ossos, me dispus apenas a ouvi-lo, pela mais triste das razões: eu não sabia o que dizer.
No fim, ele me consolou:
— Calma aí, seu chorão. Ainda não terminamos por aqui. Vou te contar uma novidade: ontem uma freirinha passou por aqui e me deu esta oração de Santo Expedito, e você não vai acreditar, mas quando acordei de madrugada, com muita dor, tomei dois comprimidos de morfina e vi que a oração tinha ficado embaixo do copo d’água. Como não sei rezar, resolvi lê-la, e juro que a dor passou muito antes do tempo que a morfina demora para funcionar. E sabe que me deu uma esperança? Desse tamanhinho, mas, ainda assim, minha esperança!