Durante muito tempo, defendi a ideia de que o melhor gestor público deveria ser requisitado entre os melhores gestores privados. Na medida em que todas as grandes empresas, convictas da necessidade de profissionalismo máximo, passaram a disputar ferozmente os executivos mais destacados para gerir seus negócios, mais me convenci de que o país, visto como uma megaempresa, mais exigiria de seus candidatos a governantes a comprovação de que eram aptos aos desafios de administrar com eficiência e probidade.
Claro que quando Antonio Ermírio de Morais, um dos mais brilhantes empresários brasileiros de todos os tempos, modelo de sabedoria, decência e austeridade, completamente realizado na vida, tomou a iniciativa de oferecer sua contribuição de experiência e maturidade ao país que amava e, se candidatando à Presidência, recebeu uma votação inferior ao caricato do Enéas, comecei a descrer, não de quem governa, mas de quem elege o governante.
Iniciou-se, então, e parece que para sempre, o ciclo da esperança fantasiosa e da decepção verdadeira, que bem caracteriza a sociedade que, sendo incapaz de reconhecer sua responsabilidade de valorizar quem tem valor, se apega às figuras surreais dos salvadores da pátria, sempre disponíveis para a expectativa dos incautos. Não pode ser só azar que não acertemos nunca. E quem já viveu sabe que, quando tudo parece insuportavelmente errado e não conseguimos encontrar um culpado, está na hora de comprarmos um espelho.
Sempre que um nome, até então desconhecido, irrompe na mídia como a imagem da dignidade em um país desiludido, imediatamente ele é ungido da condição de enviado divino e a sua candidatura é idealizada, mais idealizada do que construída.
O assim endeusado, mais assustado do que distinguido, invariavelmente recusa, dizendo-se despreparado, e os interessados em evitar a companhia de um tipo que destoaria do nível predominante no legislativo brasileiro argumentam que ele não pode ser candidato porque não tem experiência em política partidária.
A julgar pelo escambo em que se transformou o congresso nacional, em que o líder de bancada é tão somente o leiloeiro mor em busca da oferta mais vantajosa para seus clientes, não estar infectado pelo vírus do poder conquistado a qualquer preço talvez seja, neste momento, o maior predicado.
As repetidas convocações nas redes sociais, implorando que todo o Congresso seja renovado, dimensionam bem o desespero da classe pensante, completamente chocada com a indiferença de grande parte da população brasileira que, a quatro meses de uma eleição crucial para o nosso destino como país, só se preocupa em debater, sei lá, se o ridículo penacho colorido do Neymar Jr não poderia ser a causa da reconhecida dificuldade que ele tem de ficar em pé.