Todos os que têm experiência com pacientes terminais aprenderam há muito tempo que, quando, ao ser perguntado “Como está se sentindo hoje?”, o paciente responde: “Um pouco melhor, doutor!”, o médico está livre temporariamente das perguntas massacrantes de quem, fugindo do usual, resolva discutir a desgraça de estar sofrendo à espera da morte. Questionar a proximidade do fim é triste para o paciente, que se sente vulnerável como nunca, e desagradável para o médico, que é colocado na parede para que assuma a sua inegável impotência. Então, a negação que é adotada pelos pacientes, na maioria das vezes como estratégia de sobrevivência, funciona, ainda que precariamente, como uma trégua fugaz no desespero de um e uma prorrogação no desconforto do outro.
Palavra de médico
Emprestem-me os ouvidos
Quando a palavra trancada na garganta não pode mais oferecer esperança, que ao menos os ouvidos representem a promessa solene de parceria
J. J. Camargo