Os mais de 58 milhões de votos que Jair Bolsonaro recebeu na última eleição demonstram a força de um projeto político no Brasil. Um projeto que não acaba no dia 1º de janeiro de 2023. Por outro lado, estou certo de que uma parte de seu eleitorado não concorda com as posturas antidemocráticas do presidente ao longo de todos esses anos. Bolsonaro perdeu a eleição, mas os ecos do seu legado ainda irão reverberar durante o governo petista.
Em tom conciliador, após a vitória, Lula indica uma importante mudança de tom na disputa política. O discurso de ódio alimentado pelo bolsonarismo por todos esses anos precisa mudar a chave para que tenhamos um país que caminhe mais dentro da normalidade institucional e respeito por quem pensa diferente.
O silêncio e a demora de Jair Bolsonaro em reconhecer a derrota mostra claramente a sua visão distorcida do jogo político. Tal postura, como escreveu Marina Silva em seu Twitter, revela um despreparo para a democracia. Além de insuflar teorias conspiratórias e insurgências de apoiadores nas estradas brasileiras.
A alternância de poder é fundamental num ambiente democrático saudável. Um governo após o outro vai, de certo modo, moldando o país. Talvez Bolsonaro nunca tenha compreendido bem essa dinâmica. O processo democrático sempre passará pela instância de ganhar ou abrir mão. A democracia é um sistema com falhas, certamente, mas é o melhor que conseguimos. Nem sempre se ganha e nem sempre se perde, igual a tudo na vida.
O letramento democrático e contínuo é fundamental para evitar posturas como a de Bolsonaro. Porque não se trata apenas de telefonar para o vencedor reconhecendo a derrota e desejando-lhe sorte: trata-se de ato simbólico, mais do que isso, um ato digno e honroso para quem ocupou o cargo mais alto da sociedade. A postura de Bolsonaro confirma sua incapacidade para a diplomacia e o diminui ainda mais. Uma triste e vergonhosa saída pela porta dos fundos da Presidência.
Do novo governo espera-se mais livros, mais cultura, mais educação, mais respeito às instituições e uma relação mais diplomática e respeitosa com as divergências e críticas, que são bem-vindas e necessárias no processo democrático. Viva o povo brasileiro!