Nesta semana, tive a alegria de participar da Feira do Livro de São Paulo. Inspirado na Feira de Porto Alegre, o evento trouxe nomes proeminentes da literatura e da cultura brasileira como Djamila Ribeiro, José Falero, Renato Noguera, Mia Couto, Lilia Schwarcz, Ailton Krenak e muitos outros. Idealizada por Paulo Werneck, presidente da Associação e da Revista Quatro Cinco Um, e num formato de feira a céu aberto, na frente do histórico estádio do Pacaembu, reuniu editoras, livreiros e leitores.
Integrar os livros ao espaço urbano é também humanizar as cidades, torná-las mais democráticas. A circulação de pessoas em uma feira literária vai além da compra de livros. Embora saibamos que a questão econômica seja importante para que o mercado editorial sobreviva em meio a tantos ataques à cultura, não podemos esquecer que os livros só são vendidos porque há leitores. Sempre que me perguntam como podemos formar leitores num país em que o índice de leitura é baixo, respondo que a formação de leitores, num lugar como Brasil, é mais complexa do que se imagina.
Primeiro porque acho injusto que se exija dos cidadãos que não têm as suas necessidades básicas atendidas, como emprego, moradia, comida na mesa, educação e acesso a uma boa assistência à saúde, que sejam exímios leitores. É injusto pedir que se leia Shakespeare enquanto 33 milhões de pessoas estão passando fome no Brasil, segundo o levantamento do Instituto Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
É injusto, mas isso não significa que não possamos criar espaços acolhedores para a leitura. As feiras de livros podem ser esse lugar. Quando digo que a formação de leitores é complexa, quero dizer que não basta colocar o leitor em contato com o livro. Um livro nas mãos de alguém não faz dele um leitor. É preciso, também, criar um ambiente propício para ler. Formar leitores, na verdade, passa por várias agências sociais: escola, família, livrarias, bibliotecas comunitárias, bibliotecários, professores, editoras, festivais e feiras literárias.
Uma feira do livro na rua, ao alcance da população, democratiza não só o conhecimento, mas o amor pelos livros. Talvez seja esse amor que se deva cultivar. Só se torna leitor quem se apaixona por livros. Porque o amor aos livros também é algo que se ensina. Apesar de todas as adversidades num país como o nosso, ler é um projeto individual, mas deve ser também um projeto de Estado.