2022 é o ano do centenário da Semana de Arte Moderna. Cem anos depois de um evento que marcou a cultura brasileira, as discussões sobre ela giram em torno daqueles que defendem a sua importância e daqueles que veem a Semana mais como um evento pirotécnico, produzido por integrantes de uma elite paulistana. Pirotecnia ou não, peço licença poética aos estudiosos e especialistas no assunto para propor como eu imagino que deveria ser a Semana de Arte Moderna.
Para começar, a minha Semana teria acontecido no Rio de Janeiro, na antiga Praça Onze, com apresentação e discurso da Tia Ciata, mãe de santo e mãe do samba. A abertura seria ao som das batucadas do candomblé e da capoeira. Exus e orixás baixariam para abrir os trabalhos da Semana. Em seguida, Pixinguinha viria com seu chorinho. Acompanhado de João da Baiana, Heitor dos Prazeres, Donga e Chiquinha Gonzaga. Na minha Semana, Machado de Assis e Lima Barreto seriam os grandes homenageados. Cruz e Souza recitaria seus poemas junto com Luiz Gama.
Mário de Andrade, Oswald e Pagu seriam bem-vindos. Monteiro Lobato, não. Até porque Lobato não acharia que o samba é arte e ainda seria capaz de debochar com gargalhadas ao estilo “KKK”. Anita e Tarsila trariam xilogravuras cubistas. Augusto dos Anjos e Olavo Bilac, ressuscitados, recitariam cordéis góticos, e ambos debochariam do parnasianismo.
Tia Ciata pediria para Mário de Andrade recitar versos da Pauliceia Desvairada, depois colocaria Mário para sambar no meio da Praça Onze, cantando e rebolando até o chão, junto com Macunaíma. Oswald pediria cigarro a João Miramar. Wilson Geraldo e Noel Rosa fariam um “duelo de sambas” no meio da rua.
Na última noite, todos os participantes sairiam num grande bloco de Carnaval cantando, com os braços para o alto, a marchinha Sete Coroas, do Sinhô. Em uníssono, todos festejariam a Semana de Arte Moderna com todo o seu esplendor e diversidade. Já no raiar do dia, Manuel Bandeira viria como porta-estandarte, trazendo a estrela da manhã, lembrando-os das cinzas das horas.