A vida de qualquer professor deveria virar um filme. As experiências de um professor são um patrimônio intelectual, social e estético. É pelos olhos do professor que as falhas sociais se apresentam. A sala de aula é uma imitação do mundo. Quando a sociedade vai mal é no microcosmo do ambiente escolar que ela se revela. Talvez vocês não saibam disso: mas são os professores que impedem que a sociedade naufrague.
Às vezes, impressiona-me a força desses profissionais. Impressiona-me vê-los enfrentando as acusações infundadas e fascistas de promoverem doutrinações ideológicas, ou ainda as humilhações em ambientes insalubres das escolas públicas e o deboche de governos sobre o piso salarial.
Com a pandemia, fomos empurrados para a frente do computador. Fomos mais uma vez para o front. Tivemos de lidar com as limitações impostas pela distância. Trouxemos a sala de aula para dentro de casa. O trabalho dobrou. E entre cuidar dos filhos, plataformas, fazer a janta, planilhas, notas, conselhos de classe, aplicativos para baixar, fazer o súper, correção de trabalhos e limpar a casa chegamos exaustos ao fim de 2020. Enfrentamos as câmeras desligadas e as telas sem rostos. O silêncio dos alunos. Diante da tela, buscamos estabelecer um vínculo mais humano com aquele aluno sonolento e sumido, talvez abatido pela situação pandêmica, talvez por não conseguir ter acesso à internet. Mas nós, professores, estávamos lá. Sempre estivemos.
Os professores são a última trincheira contra uma sociedade inculta e bárbara. Quando um professor desiste, todos perdem. Esta coluna é um agradecimento a todos os professores que não abandonaram o barco, mesmo com seus salários parcelados, mesmo acossados pela covid, mesmo desamparados pelo Estado, deixados à deriva por um Ministério da Educação que sequer apresentou um plano diante da pandemia.
Obrigado a todos os professores que mesmo em seus momentos de descanso ainda podem ouvir um “ei, sor”.