O governo do presidente Lula ganhou nesta última terça-feira (28) a maior oportunidade que já teve para ser apresentado à vida real. Num único dia, Lula foi transformado em paçoca ao levar a maior surra que o seu governo já teve até agora no Congresso. Lula queria anular a lei que restringe a “saidinha”, e que os parlamentares queriam manter. Perdeu. Queria ressuscitar a lei das “fake news”, que os parlamentares não queriam mais. Perdeu. Se o governo tivesse prestado mais atenção ao mundo dos fatos, não pagaria esse mico geral.
Se o governo tivesse prestado mais atenção ao mundo dos fatos, não pagaria esse mico geral
A “saidinha” é uma das aberrações legais mais detestadas pela população brasileira, e foi unicamente por isso que o Congresso aprovou a lei que limita a sua aplicação. Bastaria que Lula ficasse quieto, mas não – ele teimou em ficar contra o povo e a favor dos criminosos. A censura é uma obsessão do governo (a lei vetada tinha prisão de cinco anos para os infratores), mas o brasileiro comum não quer isso. Nos dois casos, Lula não quis receber os fatos em audiência, da mesma forma como não admite as realidades de que não gosta. O resultado foi o desastre dos vetos.
O governo poderia pensar um pouco e perguntar a si próprio: “Será que não estamos fazendo alguma coisa errada?”. Mas apesar da grande chance que acaba de receber para corrigir seus erros, ou pelo menos alguns deles, o instinto do regime é continuar usando o erro para errar mais. O governo Lula não entende, pelo que mostram os seus atos, que está em minoria incurável no Congresso – e se está em minoria, não pode impor a todos a agenda que quer para o país. Os parlamentares aceitam muita coisa que o governo quer, mas só aceitam aquilo que querem aceitar; é inútil insistir que façam alguma coisa que realmente não querem. Lula e o seu sistema dão dinheiro para o Congresso e se sentem no direito, por causa disso, de exigir que o Brasil das suas preferências pessoais seja aprovado pelos congressistas. Não funciona.
Lula, a esquerda e as classes intelectuais acham que o defeito básico do Brasil é o povo brasileiro. É, na maioria, uma gente de direita, conservadora, feia, que acredita em família e se veste de verde-amarelo quando sai às ruas. É gente que não se interessa por sindicato e não aparece nos comícios de Lula. É gente que não tem capacidade para entender as virtudes do socialismo. É isso, queira-se ou não, que a maioria do Congresso reflete – e, por pior que seja, continua sendo a instituição em que as pessoas têm mais chance de serem ouvidas. Não dá para trocar de povo. Não dá para fechar o Congresso, ou não deu até agora. O governo Lula parece não pensar nisso.