A “Justiça Eleitoral”, um mamute burocrático que não existe em nenhuma democracia séria e engole dinheiro público na base de 1 bilhão de reais por mês, resolveu salvar o mandato do senador Sergio Moro. Altas análises de ciência política estão sendo feitas em torno da decisão, com teoremas sobre o “tensionamento” das relações com o Senado Federal, ou sobre o “distensionamento”, mas a pergunta fundamental nunca é feita: por que as eleições no Brasil são um caso de Justiça ou de polícia?
Países realmente democráticos nunca precisaram de um negócio desses; fazem eleições livres, contam os votos e a vida vai adiante. Aqui as eleições não acabam nunca. O importante não é o voto dos cidadãos. É o que acha a “Justiça Eleitoral”. O resultado pode valer, pode não valer. Está sujeito a 27 Tribunais Regionais diferentes, mais um Tribunal Eleitoral supremo. Tem de sobreviver a recursos, agravos, embargos e sabe lá Deus mais o quê.
Acharam, pelo jeito, que pegava mal erguer esse monumento à impunidade e, ao mesmo tempo, anular os votos de 2 milhões de eleitores do Paraná
O extraordinário, nessa e em todas as histórias do mesmo tipo, é que as “instituições brasileiras” consideram a coisa mais normal do mundo o cidadão ter 2 milhões de votos, como no caso de Moro, e ser demitido do cargo para o qual foi eleito. O senador foi salvo, mas não por um ato de justiça. Foi salvo porque se tornou do interesse político do STF, que controla essa coisa toda, manter o seu mandato. Queriam, na verdade, dar um fim em todos os processos penais do empresário Marcelo Odebrecht. Acharam, pelo jeito, que pegava mal erguer esse monumento à impunidade e, ao mesmo tempo, anular os votos de 2 milhões de eleitores do Paraná. Ficaram com o monumento à impunidade.
Há pouco, a mesma “Justiça Eleitoral” cassou o mandato do deputado Deltan Dallagnol, também do Paraná, e também por delitos inexistentes. Foram para o espaço os 350 mil votos que os paranaenses deram a ele nas últimas eleições. Não havia na ocasião um Marcelo Odebrecht a ser salvo; o TSE, então, cumpriu a operação de vingança que o consórcio Lula-STF estava exigindo contra Dallagnol. Estuda, agora, se vai exterminar ou conceder graça ao senador Jorge Seif, de Santa Catarina, eleito com outros 1,5 milhão de votos na eleição de 2022.
O procedimento é sempre o mesmo, e só se aplica a candidatos da direita. Inventam alguma coisa contra o eleito que querem linchar, tanto fazendo se é verdade ou não, e cassam o mandato. No caso de Moro, descobriram que era preciso “prova robusta” para aplicar seu decreto de condenação. No caso de Dallagnol, não se interessaram por prova nenhuma. Em ambas as ocasiões, mostraram que o voto popular só vale se for aprovado por eles.