Existem mais perguntas do que respostas no rumoroso assassinato de Jackson Peixoto Rodrigues, o ‘Nego Jackson’, 41 anos. Líder da mais nova dentre as grandes facções criminosas gaúchas, a Família do Sul (criada para se opor aos Bala na Cara), ele foi emboscado no sábado (23) por outro detento, quando ambos estavam recolhidos no módulo 3 da Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan 3).
Conforme os relatos dos próprios agentes penitenciários que atuam na Pecan, muitas falhas de segurança marcam o assassinato. Os disparos teriam sido feitos através da portinhola de uma cela durante a triagem dos detentos. E a arma, uma pistola, teria chegado no presídio por meio de um drone.
Este colunista recebeu relatos de que o sobrevoo de drones é constante sobre o complexo da Pecan. E de que existiria orientação aos agentes penais para não dispararem contra os aparelhos, por temor de que despenquem e causem ferimentos. Bom, se isso se confirmar, existiriam dois problemas: o sobrevoo impune e a dificuldade de impedir que os objetos voadores entreguem suas encomendas mortíferas (armas e drogas).
Mas as dúvidas não param aí. Como Nego Jackson e seu suposto matador, Rafael Telles da Silva, o Sapo (que é da facção rival, Bala na Cara), inimigos, estavam na mesma ala (triagem)? Pergunta adicional: nas revistas feitas pelos agentes não foi encontrada a arma? Quarta questão: o homem morto era um líder de facção condenado por vários homicídios. Mas o projeto da Pecan era para não ter faccionados... não é mais assim?
Encaminhamos essas dúvidas à Polícia Penal e à Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo, comandada pelo advogado Luiz Henrique Viana, reconhecido por sua competência. Estamos no aguardo. O assassinato em si é investigado pelo Departamento de Homicídios da Polícia Civil.
O suposto matador foi preso em flagrante, e a Polícia pediu a prisão preventiva dele. Deve ser removido para uma penitenciária com mais segurança.
O fato é que esse descuido na prisão pode gerar muito sangue nas ruas. Nego Jackson era conhecido como matador. É investigado, como executor ou mandante, por 29 homicídios. Vários deles com esquartejamento e decapitações, na grande onda de assassinatos que marcou a guerra de facções em Porto Alegre entre 2016 e 2017.
Jackson responde ainda por quatro inquéritos por tráfico, associação criminosa e lavagem de dinheiro. O poderio desse líder criminoso pode ser mensurado pelo fato de que, da última vez em que foi preso, se encontrava no Paraguai, foragido e intermediando remessas de drogas para Porto Alegre. O suposto assassino dele também responde por diversos homicídios. Aliás, o Judiciário também poderia esclarecer o que dois presos considerados muito perigosos faziam numa penitenciária de média segurança.
Ainda na noite do assassinato a Brigada Militar reforçou o patrulhamento nas áreas de domínio das duas facções antagonistas. Retaliações são prováveis. Tudo que o Rio Grande do Sul não precisa.