Um total de 543 famílias de servidores da segurança que tiveram residências danificadas pela enchente que atingiu o Estado em maio receberam mobília nova e eletrodomésticos, doados pelo Instituto Cultural Floresta (ICF). Fundada em 2016, a entidade é uma organização sem fins lucrativos que visa mobilizar a sociedade civil para contribuir na melhoria da segurança e educação públicas no Rio Grande do Sul.
Os servidores (da Brigada Militar, do Corpo de Bombeiros, do Instituto-Geral de Perícias e da Polícia Civil) foram contemplados com mesas, cadeiras, armários, fogão, geladeira, torneiras, pias e outros objetos essenciais para ajudar na reconstrução das suas vidas após a tragédia. A ação foi denominada Operação Casa Segura e a lista de beneficiados foi elaborada a partir de levantamento produzido pelos comandos das corporações e Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP). Foram priorizados os funcionários públicos da ativa mais gravemente atingidos pela enchente.
— Fazer a diferença na vida de mais de 500 famílias é uma forma de retribuir os esforços desses servidores que, mesmo durante a enchente, não deixaram de servir à comunidade — resume Claudio Goldsztein, presidente do Conselho do ICF.
Falamos com uma das contempladas pelas doações, a PM Juliana Camargo. Ela é soldado no 9º Batalhão de Polícia Militar (que atua na área central de Porto Alegre), enquanto o marido, Jonatan Mendonça Camargo, também é soldado, só que no 15º BPM (Canoas). O casal reside no bairro canoense Harmonia e foi surpreendido pela enchente em 3 de maio. Saíram de casa com os três filhos, uma gata e uma cachorra. A residência ficou 26 dias submersa e eles só conseguiram retornar 45 dias após o início das cheias. Ficaram abrigados em casa de outro policial militar.
— Não tínhamos mais nada, tudo estava submerso pela água, algo inimaginável para nós. A sensação era de tristeza e impotência ao ver tudo o que construímos durante 20 anos transformado em entulho e lama. As lembranças das fotos dos filhos pequenos, do nosso casamento, da minha mãe já falecida, tudo perdido. Não eram apenas móveis e fotos, mas nossa história de vida.
Juliana ressalta que os chefes do casal na BM asseguraram que não seriam esquecidos. E num dia um caminhão do Serviço de Assistência Social da Brigada Militar apareceu na casa, trazendo cama de casal, colchões, geladeira, micro-ondas, fogão, cozinha, roupeiro, armário de banheiro, mesa, mantas e um kit de panelas. "Bora reconstruir?", convidou a coronel responsável pelas entregas, feitas a partir de doações do Instituto Floresta.
— Sou grata. A sensação de que não somos só um número fez diferença em nossas vidas — conclui a PM.
As doações foram viabilizadas por meio de parcerias do ICF com empresas. A Dell Anno, por exemplo, desenhou móveis exclusivamente para a iniciativa do ICF e doou 500 conjuntos de móveis. Outros itens foram comprados a preços menores. O Floresta contou, ainda, com a colaboração do Ciclo Empreendedor e da ArqExpress para viabilizar as doações. Claudio Goldztein ressalta que foram priorizadas, como fornecedores, empresas gaúchas, o que ajuda a retomar a economia local, duramente atingida.
— Como pagamos impostos sobre os produtos que foram doados, também ajudamos indiretamente o Estado a incrementar a sua arrecadação, que será revertida em mais serviços públicos — acrescenta Goldsztein.
Além do mobiliário e eletrodomésticos, o ICF já doou mais de 2 mil trajes de neoprene, 780 pares de botas de chuva, 430 lanternas, 500 coletes salva-vidas e 20 boias aos servidores da segurança e voluntários. Disponibilizou também 30 geradores elétricos, três pick-ups e 330 antenas de internet via satélite Starlink para apoiar operações de resgate e coordenação.
Em junho, um comboio de 10 caminhões levou cestas básicas, roupas, material de limpeza, botas de borracha e ferramentas ao Vale do Taquari, ajudando na reconstrução das moradias afetadas. Também foram fornecidos equipamentos para auxiliar o trabalho da Brigada Militar, como drones com leitura térmica e rádios de comunicação. Cerca de 40 embarcações foram adquiridos pelo ICF e cedidos para os órgãos de segurança.