Na Rua dos Andradas, no centro de Porto Alegre, o Quartel do Comando-Geral da Brigada Militar do Rio Grande do Sul precisou ser evacuado nos primeiros dias de maio, após a elevação do Guaíba. A água barrenta tomou o primeiro andar e fez móveis boiarem pelo prédio histórico. A cena de devastação se repetiu na unidade mais antiga da BM, o 1º Batalhão de Polícia Militar, na Rua Dezessete de Junho, no bairro Menino Deus.
Na Zona Norte, o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil, localizado na Avenida das Indústrias, foi submerso por dois metros de água. No bairro Navegantes, o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) também ficou alagado.
Ao menos 44 unidades das duas corporações foram atingidas pelas inundações que devastam o Estado. Por parte da BM, são 15 estruturas danificadas. Na Polícia Civil, pelo menos 29 unidades — entre delegacias e departamentos — foram afetadas.
No QG da BM, na Rua dos Andradas, equipamentos de informática foram retirados, e os móveis suspensos em pallets, numa tentativa de salvar o que era possível. Mas a água alcançou cerca de 1m70cm. Nesta quinta-feira (23), apesar de a enchente ter baixado, o prédio seguia sem energia elétrica e estava coberto de lodo. Parte dos servidores está no Batalhão de Choque, na Avenida Coronel Aparício Borges, no Partenon. A expectativa é de que o retorno para a Andradas deva levar ao menos duas semanas.
Bem perto dali, na Rua Sete de Setembro, também no Centro Histórico, o Centro Médico-Odontológico da BM, que atende policiais da Capital, Região Metropolitana e Vale do Sinos, foi inundado. Ainda não foi possível avaliar os danos, mas estima-se que tenham sido perdidos equipamentos e pelo menos 15 cadeiras de dentista. Neste caso, o serviço está suspenso.
Os demais imóveis da BM que foram atingidos estão localizados principalmente na Capital e Região Metropolitana, em cidades como Eldorado do Sul, Guaíba e Sapucaia do Sul. O Comando do Vale do Taquari, em Lajeado, alagou pela terceira vez e, neste caso, a BM estuda a possibilidade de mudança. Decisão semelhante foi tomada ano passado quando o batalhão que era sediado em Estrela foi removido para Teutônia.
Em outros locais ainda não é possível avaliar a dimensão dos estragos, como no caso do Comando Ambiental, localizado às margens do Rio Jacuí, na Rua João Moreira Maciel, na zona norte de Porto Alegre.
— O andar inteiro ficou submerso. Dois contêineres de equipamentos foram colocados num lugar mais alto, onde não se imaginava que ia chegar a água. Mas os contêineres saíram flutuando — relata o comandante-geral da BM, coronel Cláudio dos Santos Feoli.
O Comando Ambiental foi transferido para um acampamento montado em frente à sede, nas margens da via. Veículos elétricos — cedidos por uma empresa — são usados para carregar os equipamentos, como computadores e celulares, usados pelos policiais. É dali também que partem as embarcações com destino a Eldorado do Sul.
Situação da Polícia Civil
Na Polícia Civil, além do Deic — que teve a maior incidência de estragos — e do Denarc, outros departamentos foram atingidos. É o caso do Departamento de Polícia de Grupos Vulneráveis (DPGV), que também foi afetado. A Delegacia do Turista, localizada no aeroporto da Capital, que segue fora de atividade, está sem previsão de retomada. A Delegacia de Combate à Intolerância também segue com a sede alagada, mas está atendendo junto ao DPGV, que já teve os serviços retomados.
A 3ª Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA) da Capital, na Zona Norte, precisou transferir o atendimento para o Palácio da Polícia. A 17ª Delegacia de Polícia também foi atingida.
Ainda na Região Metropolitana, foram atingidas delegacias em Eldorado do Sul, Canoas e São Leopoldo. No Interior, foram afetadas DPs em 17 municípios. Entre eles, estão Sobradinho, no Vale do Rio Pardo, onde uma parede chegou a ser derrubada pela força da água, que arrastou três viaturas, e Sinimbu, na mesma região. No Vale do Taquari, todas as delegacias da central de polícia em Lajeado foram afetadas. Entre as cidades atingidas estão ainda foram Montenegro, Vale Real, Brochier, Rolante, Agudo, São Jerônimo, entre outras.
— As delegacias do Interior estão sendo realocadas, como no caso de Sobradinho, está no Fórum. Outras estão funcionando em prefeituras ou outros órgãos que têm condições. Mas todas estão funcionando. Nenhum órgão parou de trabalhar, nem mesmo o Deic e o Denarc, que ficaram alagados, seguiram fazendo seu trabalho, inclusive de rondas — afirma o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré.
O Deic, assim como o Denarc, e a própria chefia da Polícia Civil, foram instalados, provisoriamente, na antiga sede da CEEE, no bairro Jardim Carvalho. No Vale do Taquari, segundo a polícia, um novo prédio deve ser locado para abrigar as delegacias atingidas em Lajeado, até a construção de outra sede.
— Em relação aos trabalhos de investigação, não temos quase nada físico dos inquéritos. Eventualmente pode se perder algo que não foi digitalizado ainda. Mas de regra não deve prejudicar o trabalho. Claro que com a dificuldade de lotação, podemos ter uma diminuição da velocidade dos procedimentos — afirma Sodré.
Novo alagamento
Na tarde desta quinta-feira (23), o 1º e o 9º BPM, um de frente para o outro, além do Comando de Policiamento da Capital e o Departamento de Logística e Patrimônio precisaram novamente ser evacuados, após a elevação das águas em bairros de Porto Alegre. O 1º BPM, que atende a Zona Sul, é considerado o mais danificado, especialmente em razão de parte da estrutura histórica de madeira.
— Vamos poder usar um terço do quartel, o restante ficará inviabilizado. Precisaremos manter a parte histórica e construir um prédio totalmente novo. Os materiais bélicos e viaturas foram retiradas antes — explica Feoli.
Em Montenegro, a Escola de Formação foi totalmente inundada — o comando da BM analisa desativar o espaço definitivamente. No local, havia 180 alunos em treinamento durante o curso de soldado, que precisou ser interrompido. Enquanto isso, o efetivo está sendo empregado em ações humanitárias. Da mesma forma, os cursos em Porto Alegre e Osório também tiveram as aulas suspensas, e os alunos foram realocados nessas atividades. A expectativa, no entanto, é de que o treinamento dos 500 alunos seja retomado e que os novos soldados possam auxiliar no policiamento nos próximos meses.
— O brigadiano, como todo gaúcho, é resiliente. Vamos adaptar o nosso trabalho para bem atender a nossas demandas de segurança pública. E vamos esperar que mais adiante possa ter investimento nessas estruturas que foram afetadas. Isso não vai impactar na entrega que nós fazemos para a sociedade — diz Feoli.