O assunto da semana nos meios policiais (e no submundo) é a fuga de um dos maiores líderes de facção criminosa no Rio Grande do Sul, Tiago Benhur Flores, 39 anos, que sumiu do mapa dia 24, conforme revela o colega Lucas Abati. Condenado a 153 anos de prisão por diversos crimes (entre eles, a construção de um túnel para uma fuga em massa do Presídio Central de Porto Alegre), ele estava em casa desde 22 de julho, beneficiado por "prisão domiciliar humanitária" concedida pelo Judiciário.
Ele alegava fortes dores ósseas numa perna e foi submetido a uma cirurgia. A Vara de Execuções Criminais deixou que saísse da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc, o mais fechado presídio do RS) e fizesse em casa sua recuperação, bem como fisioterapia. Só que ele rompeu a tornozeleira eletrônica imposta como condição pela Justiça e foi ao mundo.
Benhur é um dos líderes da facção Os Manos, a maior do Rio Grande do Sul. Pois em pouco mais de um ano, outras duas lideranças da mesma organização criminosa escaparam, de forma idêntica. Natural do Vale do Sinos, Marizan de Freitas, 35 anos e condenado a 38 anos de prisão (inclusive por dar ordens gravadas para assassinatos), fugiu após fazer cirurgia em uma perna, para sanar dores geradas de um ferimento a bala. A Brigada Militar tinha alertado para a possibilidade de fuga, mas não foi ouvida.
Já Sandro Alixandro de Paula, o Zoreia, 40 anos, atua entre as Missões e a fronteira com a Argentina, no tráfico de armas e drogas. Está condenado a 243 anos de prisão. Escapou de prisão domiciliar, que cumpria também por alegada doença.
A fuga dos dois deixou policiais inconformados com o retrabalho. Que foi feito. Zoreia, que estava foragido desde fevereiro de 2023, foi preso em julho daquele ano por policiais gaúchos, quando desfrutava de clima ameno e boa vida numa praia no Pará. Marizan foi capturado quando jantava com familiares numa churrascaria, em São Paulo. A Polícia Civil encontrou os dois na mesma semana.
As penas de Zoreia, Marizan e Benhur somam 434 anos de prisão. Era mesmo o caso de mandá-los para casa? Não existiria uma maneira de garantir a recuperação deles atrás das grades, nem que fosse numa cela isolada e dotada de algumas providências sanitárias? Ou mesmo num hospital, sob escolta?
São perguntas que os policiais gaúchos se fazem. Os mesmos que tentarão agora localizar Benhur, dentro da máxima que juraram ao pegarem os distintivos: servir e proteger a sociedade.