Qual a conexão que existe entre o assassinato de Marielle Franco, os megaassaltos a banco realizados em Guarapuava (PR) e Araçatuba (SP), o badernaço feito por extremistas de direita no 8 de janeiro de 2023 em Brasília e roubos de carro com morte em Porto Alegre? Parece não fazer sentido, mas o que une esses crimes é que a resolução deles foi predominantemente embasada em perícias científicas. E casos como esses serão debatidos no 27º Congresso de Criminalística, que acontece de 10 a 13 de setembro em São Luís (Maranhão) e contará com expressiva participação de profissionais gaúchos.
Para relembrar: no caso da vereadora Marielle Franco, os assassinos confessaram o crime após acúmulo de indícios coletados pela perícia. Entre eles, rastreamento por satélite da trajetória do Cobalt usado no assassinato e rastreamento de celulares (que mostraram onde estavam os matadores no momento do crime).
Nos roubos a banco, cápsulas de metralhadora antiaáerea calibre .50 usadas para atacar carros-fortes em Guarapuava (PR) se revelaram compatíveis com arma idêntica usada no mesmo tipo de assalto em Araçatuba (SP) - e a prisão de ladrões com uma das armas revelou que participaram desses dois ataques (e de outros mais).
No caso dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, a presença de manifestantes dentro do Congresso foi comprovada por impressões digitais, fotos transmitidas por eles durante a baderna (mesmo apagadas, foram resgatadas por peritos) e trajetória do celular ao longo da viagem a Brasília. Mesmo alguns que não foram detidos em flagrante acabaram presos depois, com base em provas periciais. Por fim, roubos de carro com morte em Porto Alegre muitas vezes resultam em incriminação dos latrocidas com base em digitais colhidas na hora.
- O congresso servirá também para debater a evolução da perícia no Brasil. Uma identificação positiva com base no DNA levava semanas, agora pode ser feita em horas, pelos saltos da ciência. Digital virou rotina. E vem aí o uso da Inteligência Artificial nas perícias - exemplifica Cleber Müller, consultor em Perícia Criminal e Cível, ex-diretor do Instituto-Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul e um dos impulsionadores do encontro de criminalística.
Claro que o avanço científico esbarra na crônica carência de efetivo. Não há peritos suficientes para a quantidade de crimes cometidos no Brasil. Até por isso, a categoria quer ser reconhecida com o status de Policial Científico. Em sete Estados, a perícia é vinculada à Polícia Civil. Nos demais, costuma ser uma categoria à parte, mas sem ser considerada policial. A ideia é ter carreira própria, mas no guarda-chuva das polícias. Esse será outro assunto discutido no Congresso de Criminalística, iniciativa que costuma acontecer a cada dois anos.