A nova tática dos delegados da Polícia Civil gaúcha para pressionar por reajuste salarial é cobrar horas extras efetivamente cumpridas. Elas costumam ocorrer em operações policiais, a maior arma do governo contra o crime organizado e, também, um instrumento vistoso para garantir apoio da sociedade (inclusive político).
Pois a Associação dos Delegados de Polícia (Asdep) e a Ugerim-Sindicato (que congrega agentes da Polícia Civil) não querem mais que as horas extras sejam adequadas a um valor previamente estabelecido pelas chefias e departamentos.
— Há bastante tempo os policiais civis trabalham muito mais horas extras do que recebem. Temos suportado essa situação, mas como o governo não senta e negocia com a categoria um reajuste real de salário, vamos cobrar o que efetivamente estamos trabalhando — justifica o presidente da Asdep, Guilherme Wondracek.
A Asdep e a Ugeirm sugerem pagamento efetivo das horas extras ou efetiva implementação de um banco de horas (compensação com folga). Do contrário, os delegados prometem cobrar o valor na Justiça. A medida é apoiada por inspetores, comissários e escrivães.
A Asdep alega que a categoria já foi a quarta mais bem paga dentre os 27 Estados e hoje ocupa o 16º lugar. Os delegados também continuam evitando a divulgação das suas operações contra o crime, mas a Chefia de Polícia resolveu agir contra essa tática. Determinou que os chefes regionais da Polícia Civil informem à mídia sobre as principais ações, mesmo que seus subordinados adotem o silêncio.
O governo estadual até cogita dar reajuste aos policiais, mas não agora. É que ocorreu perda de arrecadação com a recusa dos deputados em aprovarem aumento na alíquota de ICMS. Com isso, o Executivo teve de se adequar ao limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (que condiciona gastos com pessoal à receita corrente líquida). A projeção é que a arrecadação governamental melhore até março, ocasião em que alguma reposição salarial é cogitada. Claro que os policiais estão impacientes, nessa queda de braço.