Profissionais de mídia são mensageiros. Repassam aos poderosos o anseio da população. Claro que nem sempre a notícia que transmitem agrada e isso traz repercussões. Entre elas ameaças, ataques, prisões e mortes. Três entidades acabam de contabilizar as agressões sofridas por jornalistas em 2023 e os números são impressionantes.
No planeta, 546 profissionais de mídia foram presos e 107 foram mortos no ano passado. Das mortes, 94 aconteceram no contexto do conflito Israel-Hamas-Hezbollah (89 palestinos, quatro israelenses e três libaneses).
O levantamento é feito pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) e pela ONG Repórteres Sem Fronteiras. É um grande aumento em relação a 2022, quando foram mortos 61 profissionais de mídia no mundo.
Dos 546 profissionais de jornalismo presos ano passado, a maioria atua na China (121 detidos). O Brasil tem, no momento, só um jornalista preso, um blogueiro especializado em futebol.
O Brasil não figura entre os países mais arriscados para jornalistas, até por não enfrentar guerras ou convulsões sociais. A pressão é mais sutil, muitas vezes por meio de ameaças e assédio moral, explica Vilson Romero, dirigente da Associação Riograndense de Imprensa (ARI), que contabiliza todo o ano um detalhado levantamento a respeito (e que pode ser conferido neste link).
Em 2023 foram contabilizados 181 ataques a profissionais de mídia no Brasil, conforme a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Isso é uma redução de 51,8% em relação ao ano anterior, quando aconteceram 376 ataques. O fato de 2022 ser um ano eleitoral agravou a questão, pondera José Nunes, presidente da ARI e vice-presidente da regional Sul da Fenaj. Apesar de no ano passado ter diminuído o número de agressões à mídia, ainda é muito se comparado com 2018, por exemplo, quando foram registrados 135 episódios do gênero.
O Brasil teve no ano passado um jornalista assassinado, 38 agredidos fisicamente (sobretudo nas manifestações golpistas de 8 de janeiro), 11 virtualmente, 17 verbalmente e 22 processos que são considerados, pela Fenaj, assédio judicial.
Entre as ameaças contabilizadas, duas aconteceram no Rio Grande do Sul. Uma delas, contra Eduardo Matos, por reportagens publicadas em GZH sobre um homem suspeito de seduzir mulheres e aplicar contra elas golpes financeiros. O retratado na matéria intimidou de forma ameaçadora Matos, em frente a familiares.
A outra ameaça registrada no Estado pela Fenaj foi contra o repórter Giovani Grizotti, da RBS TV. A Polícia Federal interceptou mensagens trocadas por dois contrabandistas de soja, que cogitavam assassinar o jornalista. Os dois foram presos.
A verdade é que jornalismo nunca foi um passeio no parque. Dar notícias desagradáveis incomoda. Mas sem elas, como a população veria refletidos seus anseios? É para valorizar o trabalho desses mensageiros que se faz necessário expor esse ranking de riscos, numa profissão muitas vezes incompreendida.