Quarenta e cinco jornalistas morreram em 2023 no mundo no exercício da profissão, o menor número desde 2002, devido em grande parte à redução de assassinatos na América Latina, apesar de o conflito entre Israel e o Hamas ter sido especialmente letal, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Os dados compilados pela RSF até 1º de dezembro indicam que "45 jornalistas foram assassinados no exercício da profissão, 16 a menos que no ano passado".
Este é o menor número desde 2002, quando 33 profissionais da imprensa foram assassinados, um terço deles quando trabalhavam na cobertura do conflito no Oriente Médio.
Os números de 2023 destacam a "redução significativa" do número de mortes na América Latina, com seis jornalistas assassinados contra 26 em 2022.
O México, o local mais letal para a profissão depois da Faixa de Gaza, registrou os assassinatos de quatro jornalistas em 2023, contra 11 no ano passado, mas a diminuição não reflete uma segurança maior para a imprensa, enfatizou a RSF.
- "Autocensura" na América Latina -
"Embora o número de jornalistas assassinados na América Latina tenha registrado uma queda significativa (...) os profissionais da informação ainda não trabalham com segurança, como demonstram os sequestros recentes e ataques armados ocorridos no México", destacou a organização.
A RSF acrescentou que "o recorde de incidentes violentos registrados em 2022 na América Latina estimula os jornalistas a adotar a autocensura, o que se traduz com a proliferação de buracos negros de informação na região, onde o crime organizado e a corrupção encabeçam a lista de questões pelas quais "os jornalistas arriscam suas vidas".
A ONG também informou que 84 jornalistas são considerados desaparecidos no mundo, quase um terço deles mexicanos.
A América Latina concentra mais da metade dos jornalistas desaparecidos no mundo, com 43.
- Mortes em Gaza -
Em Gaza, "os jornalistas estão pagando um preço elevado entre a população civil. Constatamos que o número de jornalistas assassinados no exercício da profissão é muito elevado: 13 em um território minúsculo", afirmou o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire.
"Apresentamos uma denúncia ao Tribunal Penal Internacional (TPI) para estabelecer a realidade dos fatos e até que ponto os jornalistas foram alvos deliberados", disse.
A RSF destacou que este ano 23 jornalistas foram assassinados no exercício da sua profissão em conflitos e que é a primeira vez em cinco anos que mais repórteres morreram em guerras do que em zonas de paz.
"A grande maioria, 17, na guerra entre Israel e o Hamas, dos quais 13 morreram em Gaza", afirma o relatório da organização.
O conflito na Ucrânia registrou duas mortes de jornalistas em 2023, incluindo o repórter da AFP Arman Soldin (que faleceu em maio), o que eleva a 11 o número de profissionais da imprensa mortos desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022.
A organização afirma que as causas da redução do número de mortes são múltiplas e "discutíveis".
"O trabalho das organizações intergovernamentais, das ONGs e dos próprios meios de comunicação ou maior cautela?", questiona a RSF no relatório.
O balanço "não inclui os jornalistas assassinados fora do exercício da profissão, os que não foram assassinados nem aqueles cujas mortes continuam desconhecidas", explica a RSF.
* AFP