O crime organizado bate à porta dos veículos de comunicação no Equador, onde este ano pelo menos 15 jornalistas foram ameaçados de morte em meio à violência crescente que abala o país, informaram, nesta quinta-feira (7), organismos de defesa da liberdade de imprensa.
"Isto é um aumento de 100% em relação às ameaças de morte registradas em 2021 e 2022, quando houve entre sete e oito" intimidações deste tipo, afirma Susana Morán, presidente da organização Periodistas Sin Cadenas (Jornalistas sem Correntes, em tradução livre).
O medo pressiona os comunicadores que tiveram que cobrir as últimas eleições-gerais protegidos com coletes à prova de bala e capacetes - algo inédito -, após o assassinato do candidato à Presidência Fernando Villavicencio.
Outros optaram por blindar seus veículos ou praticar a autocensura.
O mapa das ameaças contra profissionais da imprensa mudou com o aparecimento de um ator temido: as quadrilhas ligadas ao narcotráfico.
"O padrão de violência foi se deslocando de atores eminentemente estatais para estes outros atores, que podemos inferir que seja o crime organizado e a delinquência comum", disse, durante coletiva de imprensa, César Ricaurte, da ONG Fundamedios.
Essa organização e as fundações Periodistas Sin Cadenas e Nos Faltan Tres (Faltam Três) apresentaram, nesta quinta-feira (7), a Mesa de Proteção para Jornalistas no Equador.
A iniciativa visa a verificar as ameaças, analisar os riscos e proteger os jornalistas cujas vidas estejam em risco iminente.
Entre janeiro e agosto, a Periodistas Sin Cadenas registrou 216 agressões a jornalistas. Destas, 15 foram ameaças de morte.
- "Zonas silenciadas" -
Para Morán, as ameaças estão ligadas ao contexto da violência crescente no país, que passou de ser um oásis de paz a um campo de batalha do narcotráfico.
Estimativas de analistas apontam que o país vai terminar 2023 com uma taxa de até 40 homicídios por 100.000 habitantes.
Em 2022, o Equador bateu o recorde nacional de 26 homicídios por 100.000 habitantes. Segundo números oficiais, o México registrou 25, a Colômbia 24, e o Brasil 23.
"Cada vez as agressões contra jornalistas são mais violentas", acrescentou Morán, lembrando que três jornalistas foram mortos em 2022 e cinco precisaram deixar o país este ano por ameaças contra sua vida.
Em março deste ano, cinco envelopes com dispositivos USB carregados com explosivos foram enviados a jornalistas de diferentes veículos. Um deles sofreu ferimentos leves após a detonação.
No ano passado, a emissora RTS foi atacada a tiros e em 2020, um artefato explodiu nas instalações da TV Teleamazonas.
"Há um padrão de impunidade (...) Quando são casos de agressões contra a liberdade de expressão, de ataques, de assassinatos de jornalistas, nunca se investiga a motivação profissional e isto é muito grave porque também não nos dá estatísticas oficiais sobre a violência contra jornalistas", afirmou Ricaurte.
Organismos de defesa da liberdade de imprensa também identificaram no Equador "zonas silenciadas", onde o poder do crime leva os jornalistas a praticarem a autocensura. Por isso, exigiram que o governo do presidente Guillermo Lasso destine recursos para proteger os comunicadores.
"O silenciamento ocorre, sobretudo, nas províncias da Costa, que são muito afetadas pelo crime organizado, porque são corredores destas mercadorias ilícitas. A fronteira norte tem uma situação urgente e dramática", disse Morán à AFP.
A Fundamedios considerou o ano de 2022 como "letal" para o jornalismo equatoriano, após a morte de três comunicadores, que faleceram em circunstâncias violentas e do feminicídio de uma jornalista.
Nesse ano foram registradas 356 agressões contra profissionais de imprensa no Equador, 67 a mais que em 2021.
* AFP