Ter 12 mandados de prisão contra si não é para qualquer um. Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, conseguiu essa façanha. Considerado o chefe da maior milícia criminosa do Rio de Janeiro (a antiga Liga da Justiça), ele se entregou nesse fim de semana à Polícia Federal (PF). Tinha medo de ser assassinado por rivais ou pelos próprios companheiros, por saber demais, confidenciou a policiais. As negociações levaram tempo e ele se apresentou numa delegacia.
É um presente de Natal aos policiais federais. A expectativa é que ele faça grandes revelações. Zinho é o legítimo homem que sabe demais. As ordens de prisão contra ele valem por um abecedário do crime. Era procurado por ordenar o uso de carros clonados para localizar e executar rivais, por ser mandante da morte do ex-vereador e ex-policial civil Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho (apontado pela polícia como um dos fundadores da milícia) por determinar o pagamento de propina a policiais para ser informado de operações, por lavar dinheiro com compra de casas e terrenos, por extorquir comerciantes.
Milícias, para quem ainda tem dúvidas, são grupos paramilitares que se dedicam a explorar diversas atividades legais e ilegais, via de regra mediante extorsão. Imagine o leitor a quantidade de gente interessada em que Zinho permaneça calado. E quieto o chefe miliciano vinha se mantendo...até hoje. Acontece que calar não impediu que dois de seus irmãos fossem mortos: Wellington Ecko e Carlinhos Três Pontes e o sobrinho Matheus da Silva Braga, cuja morte gerou represália de milicianos, que incendiaram ônibus. Todos morreram em confronto com policiais civis.
Consta que Zinho concorda em falar sobre crimes. Há expectativa de que aborde o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista dela. Ambos foram executados por milicianos, conforme as investigações. Semana passada um subtenente da PM fluminense foi preso em ação contra a milícia de Zinho. Esse policial era investigado também por ter se envolvido no planejamento da execução da vereadora.
A esperança da PF é que Zinho entregue suas conexões políticas, já que milícia nenhuma sobrevive sem apoio do poder público.