Surgiram novidades no caso em que autoridades do governo, do Legislativo e do Judiciário federais receberam a mulher de um líder do Comando Vermelho (CV, facção criminosa com atuação nacional). Luciane Barbosa Farias esteve em visita ao Ministério da Justiça, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a deputados no primeiro semestre deste ano, mesmo sendo casada com Clemilson dos Santos Farias, o "Tio Patinhas", um assaltante de bancos no Amazonas condenado a quase 30 anos de reclusão.
A revelação foi feita pelo jornal paulista Estadão na semana passada e provocou intensa polêmica, até porque Luciane teve passagens custeadas pelo Ministério dos Direitos Humanos para sua ida a Brasília. Ela fez as visitas como presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), uma organização não-governamental que age como porta-voz de presos e seus familiares. O tour com as autoridades teria como objetivo informar questões como torturas e más condições nos presídios amazonenses.
O fato seria ainda mais grave porque a própria Luciane também está condenada, a uma pena de 10 anos de prisão por associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro, como informou o Estadão. Responde em liberdade, enquanto move recurso contra a sentença. Esse detalhe provocou furor nas redes sociais, sobretudo as da oposição bolsonarista, que cogita pedir CPI sobre o caso. Só que o jornal não informou (talvez não soubesse) que a condenação da mulher do líder criminoso só ocorreu depois de ela ser recebida pelas autoridades, não antes. Ou seja: o governo teria recebido apenas a mulher de um preso, não uma condenada.
A descoberta de que ela não estava condenada quando foi recebida no Ministério da Justiça provocou outra onda de indignação na internet, só que agora de parte de alguns apoiadores do governo Lula. Eles acusam jornalistas de propagar fake news. Inclusive foi promovida uma campanha difamatória contra alguns, com fotos espalhadas nas redes.
É preciso analisar os fatos como eles são. O fato de Luciane ainda não ter sido condenada quando foi recebida pelo Executivo, Legislativo e Judiciário federais diminui o impacto das revelações, mas não termina com a controvérsia. Afinal, ela é esposa de um líder criminoso, é investigada pela Polícia Civil como integrantes da facção (isso está em inquérito) e, ao longo do ano, acabou condenada por isso. O próprio governo, após as reportagens sobre a identidade da mulher, elaborou portaria alterando as regras de acesso ao ministério da Justiça, para melhor triagem dos que serão recebidos pela cúpula ministerial. Ou seja, admitiu falha na verificação dos convidados (como Luciane).
Resumo dos fatos: a mulher de um quadrilheiro foi recebida por autoridades de todos os quilates. Sabiam disso? O governo nega, mas talvez soubessem, até porque ela representava presos e tampouco estava condenada (como chegou a ser cogitado no início da polêmica). Foi crime receber Luciane? Não, mas é controverso do ponto de vista da moralidade pública e também pelo fato dela ser investigada por integrar facção criminosa - tanto que, depois da série de visitas, acabou condenada, junto com o marido, num mesmo processo criminal.