Não foi só no Ministério da Justiça que Luciane Barbosa Farias, esposa de um líder da facção criminosa Comando Vermelho (CV), foi recebida por funcionários do alto escalão. Ela também visitou deputados e ao menos um magistrado ao longo deste ano.
Além de ser esposa de um líder do CV no Amazonas (Clemilson dos Santos Farias, o "Tio Patinhas"), a própria Luciane está condenada em segunda instância (a 10 anos de prisão) por associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Só que continua em liberdade, enquanto recorre contra a sentença. A revelação de que ela foi recebida duas vezes por dirigentes do Ministério da Justiça fez a oposição política ao governo Lula pedir afastamento do ministro Flávio Dino e cogitar até de uma CPI.
Surgiram agora mais novidades. Luciane também foi recebida na sede do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pelo conselheiro Luiz Phillippe Vieira de Mello Filho, que é também ministro do Tribunal Superior do Trabalho. O CNJ é a entidade que fiscaliza o resultado do trabalho dos magistrados no país e também analisa queixas contra eles, vindas da população.
Melo Filho admite ter recebido Luciane, mas alega que ela foi apresentada a ele como presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), uma organização não-governamental que age como porta-voz de presos e seus familiares. A visita teria como objetivo informar questões como torturas e más condições nos presídios amazonenses.
Acontece que a Polícia Civil do Amazonas, em inquérito, define a entidade como um braço do Comando Vermelho, que usaria a entidade como fachada "para negociações com o Estado". As ações sociais da entidade seriam sustentadas pelo CV "com a arrecadação de seus membros", segundo trecho de um relatório policial.
Luciane também participou de Encontro dos Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura, com passagens pagas pelo Ministério dos Direitos Humanos. A respeito, o ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida, disse que Luciane viajou como indicada por um dos comitês, o que lhe daria legitimidade, e ninguém do seu gabinete a recebeu. Almeida considera que as revelações fazem parte de uma "campanha fascista" para desestabilizar o governo Lula.
Ela também foi recebida por parlamentares. Os deputados federais Guilherme Boulos (PSOL-SP) e André Janones (Avante-MG) têm fotos com Luciane. Após a repercussão da visita dela ao Ministério da Justiça, os dois se manifestaram, segundo O Globo, dizendo que não têm qualquer vínculo com a mulher e que não seria possível checar o histórico de todas as pessoas com quem eles se encontram como deputados.
A ação em nome de uma ONG de defesa dos presos até poderia ser legítima, não fosse o fato de Luciane estar condenada, ser esposa de um líder de facção e líderes do governo dizerem que não sabiam disso. Ou sabiam e a receberam mesmo assim, ou estão mal informados. O que rende muita munição aos opositores.