Você pode não gostar de militares, você pode admirá-los, mas uma coisa é certa: quando eles são canalizados para uma causa que exija coação, o cenário muda. Esse é o espírito que move a convocação, pelo governo federal, das Forças Armadas para ajudarem a deter o genocídio de um dos povos originários do Brasil, os yanomami, cujo território fica encravado na Amazônia. Longe da vigilância estatal, dominado por criminosos, como vem mostrando a mídia nos últimos dias.
As mortes de yanomamis por desnutrição acontecem à vista de todos e são decorrência direta da ação de garimpeiros ilegais, que extraem do território indígena minérios de todo o tipo, transportados por pequenos aviões e barcos, também clandestinos. Tudo isso se agravou de uns anos para cá, conforme relatórios de organizações governamentais e não-governamentais, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou os yanomami em sua própria região para prometer que a farra da mineração criminosa vai acabar.
Fazendo eco ao presidente, esta semana o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, anunciou as providências das Forças Armadas. O Exército irá a campo para identificação de criminosos. A Marinha vai vigiar os rios que cortam o território yanomami. E a Aeronáutica, além de transportar donativos e equipes médicas para o território indígena, vai monitorar o espaço aéreo.
A Força Aérea Brasileira já implementou, nesta quarta-feira (1º), a restrição do espaço aéreo no território yanomami. Qualquer voo suspeito vai ser obrigado a desviar a rota e pousar numa pista para ser identificado. Para ajudar na tarefa é inclusive cogitada a instalação de um radar modelo TPS-B34, que pode ser aerotransportado da base aérea de Santa Maria (RS) até a Amazônia.
A chamada Zona de Identificação de Defesa Aérea (Zida) fica na fronteira com a Venezuela e será dividida em três áreas: branca (reservada), amarela (restrita) e vermelha (proibida). Elas são concêntricas e também superpostas, em termos de altitude.
No território indígena propriamente dito fica a área proibida, onde só poderão voar aeronaves militares ou envolvidas na operação de salvamento dos yanomami (desde o solo até 1,8 mil metros de altitude). Na área restrita, estão permitidos voos para aeronaves que estão em contato com órgãos de controle (também desde o solo até 1,8 mil metros de altitude, mas já fora da terra indígena). Na reservada (de 1,8 mil metros a 4,8 mil metros de altitude, num perímetro que vai das terras indígenas à capital, Boa Vista), as aeronaves de carreira, que seguem regras e orientações do tráfego aéreo.
Além disso tudo, são esperadas ações do Instituto Brasileiro de de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Polícia Federal (PF) contra as ilegalidades. Tomara que não seja tarde demais para os yanomami. A história brasileira está repleta de extinções de povos indígenas.