Aquilo que já se suspeitava desde meados do ano passado se concretizou: o número de homicídios voltou a aumentar no Rio Grande do Sul. Foram 1.706 assassinatos em 2022, 80 a mais que no ano anterior.
A notícia é ruim, sob vários aspectos. O primeiro é a quebra de uma tendência positiva que vinha há mais de meia década. Desde 2017, quando foram registrados 2.990 homicídios, os gaúchos vivenciavam uma redução nesse tipo de delito, ano a ano.
A razão do aumento é bem conhecida. Facções que estavam em calmaria em Porto Alegre se desacertaram por uma partilha de drogas. Uma questão diminuta, que originou uma guerra no submundo. Uma curiosidade adicional é que o morticínio envolveu, no início, dois agrupamentos que outrora eram aliados. Uma terceira facção, inimiga das duas primeiras, se envolveu na briga e agora o que acontece é uma disputa territorial e, também, um ciclo de vinganças pessoais. Nunca subestime a passionalidade nos casos de assassinato, mesmo quando mortos e matadores são do crime organizado. Ela existe, seja na rivalidade entre bairros, seja porque seu amigo ou a mulher frequentou a área adversária.
Rio Grande também contribuiu muito para as estatísticas. Na cidade portuária, como na Capital, a disputa entre facções criminosas é o motor dos homicídios, de tal forma que a SSP teve de montar força-tarefa para atuar no município.
É preocupante? É. Como se sabe, na esteira dos homicídios sempre surgem crimes conexos. A guerra entre bocas de fumo gera demanda por contrabando de armas, desorganiza o mercado das drogas, resulta em fechamentos de escolas e postos de saúde, causa morte de inocentes. Mesmo o roubo de carros pode aumentar, porque são moeda para financiar outros crimes ou porque são usados para levar os matadores.
É um problema insolúvel? Longe disso. Desde 2017 o governo estadual organizou direitinho um esquema que resultou na queda da maioria dos indicadores criminais. Vamos citar três dos principais: o programa RS Seguro (com foco no combate a crimes nas 23 cidades mais violentas), o cercamento eletrônico de vias urbanas e estradas (com monitoramento de veículos em situação irregular e câmeras que gravam suspeitos) e, decisivo, a prisão de líderes de facções e envio deles para penitenciárias de alta segurança, fora do Rio Grande do Sul. Como se sabe, bandidos temem a falta de comunicação. É a morte em vida, a falência dos seus esquemas de sobrevivência.
A providência, já elaborada pelas autoridades, é estancar os surtos de violência entre facções. E, de alguma forma, convencer os quadrilheiros de que todos perdem (inclusive eles) com essa mortandade.