Os comandantes de todas as Polícias Militares foram convidados para uma reunião com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, nesta quarta-feira (23), em Brasília. Em tese, para um balanço das ações de segurança durante as eleições. Na prática, para relatarem o pós-pleito e as intensas manifestações de fãs do presidente Jair Bolsonaro (PL), muitos dos quais montaram piquetes em frente a quartéis e nas rodovias, pedindo intervenção das Forças Armadas para impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Preocupado com os bloqueios de estradas e de algumas vias urbanas, que têm sido realizados por ativistas do bolsonarismo desde 31 de outubro (dia posterior ao resultado das eleições), Moraes determinou a dissolução dos piquetes. Isso tem sido feito, de forma lenta e gradual, com diferenças em cada região do Brasil. Os convidados para os bate-papos formam uma massa heterogênea de policiais. Alguns comandam tropas em Estados com governantes aliados a Bolsonaro, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Outros, de governadores não alinhados ao bolsonarismo, como é o caso do Rio Grande do Sul e da maioria dos Estados nordestinos.
O comandante da Brigada Militar (BM), coronel Cláudio Feoli, deve comparecer - a convite e não por convocação, como ele mesmo ressaltou a parceiros. E o que Moraes ouvirá a respeito do Rio Grande do Sul? Que a palavra de ordem tem sido negociação. Não implodir pontes, nem criar mártires entre os manifestantes.
A BM considera que tem sido bem-sucedida nessa tática. No primeiro dia de protestos contra o resultado do pleito, o cálculo é que 37 mil pessoas tenham se aglutinado no Centro de Porto Alegre, uma manifestação de um tamanho poucas vezes visto. Nos dias subsequentes, o movimento nas ruas diminuiu, mas ganhou as estradas. Os piquetes foram dissolvidos, quase que na totalidade, sem uso da força (houve episódios esporádicos de desbloqueios mediante utilização de tropas de choque da Polícia Rodoviária Federal).
As manifestações nas estradas refluíram. Nas cidades, bolsões de protesto permaneceram em frente a quartéis. Em 15 de novembro, Dia da República, os protestos voltaram a ganhar corpo, mas sem alcançar o volume dos primeiros dias do mês. Nesta última semana, foram retomados alguns bloqueios de estrada. A BM dissolveu todos, apenas com convencimento, sem necessidade de violência. Fontes do comando revelam: tudo foi anotado e fotografado. Placas, nomes de líderes. Relatórios estão sendo ultimados para envio ao Ministério Público, que decidirá sobre possíveis denúncias e enquadramento penal dos manifestantes.
Em Porto Alegre, foram retirados os banheiros químicos que davam suporte aos manifestantes e o caminhão de som que os animava, ao ritmo de marchinhas militares e hinos. O cálculo é que o número de ativistas tenha diminuído, de 500 nos dias de sol, para 30 nesta chuvosa terça-feira (22). O comando da BM acredita estar no caminho certo. Com uso do convencimento no lugar da força. Mas com demonstração de energia, se for necessário. É o que será relatado ao presidente do TSE.