Tenho uma conhecida que implantou diversas vezes próteses nos fêmures, aqueles ossos que conectam o quadril ao joelho. Ela sofre de artrose. Teve de substituir a peça de metal porque, com o tempo, ela apresentou rachaduras e a paciente desenvolveu infecções. A desconfiança é que seja feita em produto de má qualidade.
É justamente contra próteses de má qualidade ou mal esterilizadas que o Ministério Público desencadeou nesta quarta-feira (26) a Operação Titanium (assim chamada em referência ao metal, muito usado nesse tipo de peça anatômica). Conforme revelam os colegas Eduardo Matos e Ronaldo Bernardi, há suspeita de que distribuidoras falsificaram selos de esterilização das próteses, para revendê-las.
Em bom português, teriam permitido que próteses com esterilização já vencida, sujeitas à presença de germes, fossem comercializadas. Isso pode ter sido feito em conluio com hospitais - algo que a investigação ainda vai aprofundar.
O certo é que a venda de próteses vencidas pode ter causado problemas de mobilidade a dezenas de pessoas RS afora. Está longe de ser um caso isolado. Em 2016, eu fiz reportagem na qual mostrei que pelo menos 1,7 mil implantes ortopédicos estavam sob suspeita em Canoas. Muitos foram superfaturados, resultando em rombo nas contas do Sistema Único de Saúde (diziam que o material era importado, quando era feito em fábricas de fundo de quintal). Em outros casos, piores ainda, a cirurgia era feita sem que a peça metálica fosse implantada. Difícil acreditar, né...mas radiografias comprovaram que alguns médicos abriram e fecharam os pacientes sem colocar a prótese. E depois cobraram como se tivessem feito o implante.
É o caso conhecido como Máfia das Próteses. Aliás, o colega Giovani Grizotti, da RBS TV, uma vez comprovou, com filmagens de câmera oculta, como médicos recebiam suborno de fábricas de peças para implante ortopédico, para que usassem seus produtos. Até cirurgias desnecessárias eram feitas, sem que o paciente soubesse.
A ação desta quarta-feira do MP mostra a nova face de um velho golpe. É preciso estar vigilante. Os fraudadores sempre voltam, nesse Brasil de leis brandas e muitas brechas judiciais para os criminosos.