A Polícia Civil realizou operação na manhã desta terça-feira (27) contra grupo que lavou dinheiro após crime de estelionato envolvendo a "máfia das próteses". Um médico ortopedista é apontado por usar três lojas de artigos infantis no esquema investigado. Ao todo, 58 policiais cumpriram 16 mandados judiciais em Porto Alegre, Canoas e Xangri-lá. Foram apreendidos R$ 22,5 milhões em imóveis e em veículos.
Em uma investigação de um ano da Delegacia de Repressão aos Crimes de Lavagem de Dinheiro, do Gabinete de Inteligência, foi apurado que o médico Fernando Sanchis teria usado os estabelecimentos comerciais, dois na Capital e um em Canoas, para "esquentar" dinheiro obtido irregularmente em fraudes junto a planos de saúde, ao Instituto de Previdência do Estado (IPE) e a pacientes, que eram levados a realizar cirurgias desnecessárias para o uso de próteses.
O esquema criminoso ocorreu em 2015, após reportagem investigativa de Giovani Grizotti. O delegado Filipe Bringhenti, que comandou a ação, informou que foram apreendidos 20 imóveis, avaliados em R$ 22 milhões, sendo alguns no Litoral, e oito veículos, avaliados em R$ 550 mil, entre eles um Porsche. Além disso, sete contas bancárias foram bloqueadas e nove pessoas são investigadas.
— Eles tinham o objetivo de esquentar o dinheiro faturado com o estelionato em detrimento do IPE, de planos de saúde e de diversas vítimas. Esse dinheiro arrecadado não poderia ser usado diretamente porque temiam possível apreensão na ação principal, a das irregularidades com as próteses, por isso, lavavam em nome de "laranjas" com a aquisição de imóveis e de veículos, bem como com as lojas — ressalta Bringhenti.
Segundo o delegado, o objetivo da abertura das lojas era simplesmente simular um faturamento compatível com o patrimônio dos investigados. Conforme o inquérito, o médico suspeito teria usado a esposa, um cunhando, um amigo da família e mais cinco "laranjas".
A polícia, com parecer do Ministério Público (MP), pediu à Justiça a prisão preventiva do médico, dos dois familiares e do amigo. Além disso, solicitou a apreensão dos passaportes dos investigados e o fechamento das lojas. O Poder Judiciário, segundo o procurador para Assuntos Institucionais do MP, Marcelo Dornelles, entendeu que essas medidas não seriam necessárias.
— Agora, com essas novas provas obtidas, acredito que o Poder Judiciário possa conceder essas prisões e apreensões. Sempre existe o risco de fuga, ainda mais com investigados que movimentam grandes quantias em dinheiro — explica Dornelles.
O MP deu apoio à polícia na operação deflagrada nesta terça. Em relação aos bens apreendidos, a polícia acredita, após o fim de todo o processo, na reversão dos valores ou dos próprios bens para as vítimas e para as instituições públicas.
A reportagem tenta contato com os envolvidos para contraponto.