Três lojas de artigos para bebês e crianças, duas delas no bairro Higienópolis, em Porto Alegre, e outra em Canoas, teriam servido de pontos de lavagem de dinheiro para o ortopedista Fernando Sanchis, envolvido no que ficou conhecido como a "máfia das próteses", segundo a Polícia Civil.
Os investigadores apontam que o médico envolvido no esquema, descoberto em 2015, teria utilizado nome de "laranjas", que se apresentavam como verdadeiros proprietários da Baby’s Mega Store, para "esquentar" o dinheiro obtido com as fraudes.
Segundo o delegado Filipe Bringhenti, da Delegacia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro, o médico e uma familiar teria adquirido imóveis em Porto Alegre e no Litoral, carros e as três lojas, em nome de outras duas pessoas:
— Esse patrimônio era usufruído pelos verdadeiros proprietários, que seriam nossos alvos principais.
Conforme o delegado, as lojas teriam sido abertas para que o dinheiro do estelionato pudesse ser justificado, assim como o acréscimo patrimonial dos sócios. Os investigados teriam sido responsáveis pela abertura dos estabelecimentos e adquiriam as mercadorias com os valores ilícitos:
— O que se faz é esquentar esse dinheiro e pra isso eles abriram empresas no nome de "laranjas", os mesmos que emprestaram os nomes para aquisição dos imóveis e dos veículos.
Segundo informações obtidas no site no Ministério da Fazenda, a primeira loja foi aberta em 14 de maio de 2015. Depois foram inauguradas mais duas.
— É uma loja de alto padrão, acima de qualquer outra concorrente no mercado gaúcho — afirma Bringhenti.
Para atrair clientes, a loja teria praticado preços mais baixos do que os concorrentes e, com isso, conseguiria ter maior procura.
— O lucro, embora seja desejado, não é um requisito para a lavagem de dinheiro. O objetivo da loja é permitir que seja declarado um faturamento, ainda que ele seja fictício. Ainda que se recolha imposto sobre isso, é lavagem de dinheiro. O que se quer é pegar o dinheiro lá do estelionato, trazer para cá e dar uma aparência de legalidade — explica o delegado.
A polícia chegou a pedir à Justiça que as três lojas fossem fechadas, mas a solicitação não foi atendida. Também foram negadas as prisões preventivas de quatro pessoas. Segundo o procurador para Assuntos Institucionais do Ministério Público, Marcelo Dornelles, as provas obtidas com o cumprimento dos mandados nesta terça-feira (27) permitem "demonstrar que os principais investigados são efetivamente donos e fazem a gestão dessas lojas, embora os laranjas estejam nos registros como proprietários".
— As lojas estão sendo utilizadas como maquiagem de um poder ilícito — diz ele.
O advogado Diego Marty, responsável pela defesa de Sanchis, foi procurado pela reportagem, mas ainda não retornou os contatos.