Com a informação de que um dos médicos investigados pela fraude das próteses viajaria nesta sexta-feira para Miami (EUA), a Polícia Civil obteve autorização para apreender o passaporte dele e de outros oito suspeitos de ligação com um suposto esquema que lesou os cofres públicos em pelo menos R$ 2 milhões.
Batizada de Operação Bones (ossos, em português), a ação cumpriu 21 mandados de busca e apreensão em consultórios, clínicas, residências de médicos, hospitais e empresas de próteses em seis cidades gaúchas. Por ordem judicial, os envolvidos não podem deixar o país, sob pena de terem a prisão preventiva decretada.
Comandada pela Delegacia Fazendária, a investigação iniciada há seis meses apontou que um grupo de médicos cooptava pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e indicava que teriam de fazer uma cirurgia para a colocação de prótese - intervenção muitas vezes desnecessária, segundo o delegado responsável, Joerberth Nunes - e supertafurava os materiais.
- Eles (os médicos) indicavam escritórios de advocacia. O advogado entrava com a ação e a instruía com documentos falsificados em conluio com as empresas de prótese, órtese e material cirúrgico. Depois, dividiam o valor - explica o titular da Delegacia Fazendária.
A fraude que provoca cirurgias dispensáveis para superfaturar próteses foi revelada no início do mês em reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo. Ainda não há levantamento do número de pacientes lesados pelo esquema. Segundo o delegado, uma das cirurgias que custaria R$ 7 mil saiu por R$ 200 mil ao Estado por meio da fraude das liminares.
Como repórter da Globo se infiltrou para viver médico
Justiça condena sete envolvidos na fraude das próteses no RS
Leia as últimas notícias da Zero Hora
A Polícia Civil havia solicitado a prisão de dois envolvidos, mas o pedido foi negado pela Justiça. Nesta quinta-feira, foram recolhidos os passaportes de cinco médicos, três advogados e da mulher de um médico que seria sócia em uma clínica, além de fichas de pacientes e laudos médicos, em Porto Alegre, Canoas, Gravataí, Xangri-lá, Rio Grande e Pelotas.
Os profissionais são investigados por estelionato contra a administração pública, falsidade ideológica e associação criminosa. Agora, eles passam a ser investigados também por sonegação fiscal e lavagem de dinheiro devido à "evolução patrimonial milionária" verificada pela polícia.
Segundo Nunes, os suspeitos de envolvimento no esquema possuíam casas em condomínios de alto luxo e carros importados - parte dos bens não estaria em nome dos médicos e advogados. A pedido da Delegacia Fazendária, a Justiça também determinou a indisponibilidade do patrimônio dos investigados. A Polícia Federal também será avisada da ordem que impede os suspeitos de deixarem o país.
Foto: Débora Ely / Agência RBS
Há, ainda, a suspeita de que planos de saúde tenham sido lesados pelo esquema. No decorrer da investigação, os envolvidos serão ouvidos pela polícia e não está descartado um novo pedido de prisão dos médicos e advogados.
O único nome investigado pela Operação Bones e confirmado pela polícia foi o do ortopedista Fernando Sanchis, citado na reportagem do Fantástico. Até a publicação desta reportagem, a defesa de Sanchis não havia sido localizada por Zero Hora, que telefonou para os consultórios do médico em Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande no fim desta tarde.
O delegado Nunes não descarta a participação dos hospitais onde foram cumpridos os mandados: Nossa Senhora das Graças, em Canoas, e Dom João Becker, em Gravataí. O hospital de Canoas enviou uma nota, no início da noite desta quinta, em que diz que "está à disposição da Justiça para o esclarecimento de todos os fatos e reforça a sua conduta ética para com os pacientes". Zero Hora aguarda resposta da assessoria de imprensa do hospital de Gravataí.
A suspeita do esquema de liminares, levantada pela Procuradoria-Geral do Estado, surgiu após mais de 30 solicitações terem sido feitas pelos mesmos médicos e por dois escritórios de advocacia. Até o momento, 12 processos foram analisados em conjunto com a polícia.
* Zero Hora