Está trancafiado numa cela da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) o homem apontado como articulador dos esquemas que resultaram em 40 homicídios e movimentação de R$ 600 milhões em tráfico e roubos nos últimos cinco anos, em Porto Alegre. Esses crimes foram alvo de operação do Departamento de Homicídios da Polícia Civil nesta terça-feira (19). Jackson Peixoto Rodrigues, conhecido como Nego Jackson, é o mais notório chefe dos Anti-Bala, uma coalizão de quadrilhas que se opõe à maior facção criminosa em atividade na Capital, os Bala na Cara.
Jackson domina o tráfico na Vila Jardim e um grande eixo entre a Avenida do Forte e as imediações do bairro Cristo Redentor. Apesar de ser suspeito de comandar pessoalmente 24 assassinatos entre 2015 e 2017, ele não foi alvo dos mandados judiciais cumpridos pela Polícia Civil e sim, seus gerentes. Mas é investigado na operação como o sujeito com a última palavra sobre vida e morte de adversários, sobre compra de drogas mediante consórcios (no Paraguai) e distribuição delas em toda Zona Norte. Além, óbvio, de envolvimento pessoal nas guerras empreendidas contra outras facções em Porto Alegre e Região Metropolitana.
A relação de Jackson com o Paraguai merece um capítulo à parte. Em 2017 ele foi preso em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que é gêmea de Ponta Porã (no Mato Grosso do Sul). Estava numa casa com vários bandidos, que foram capturados pela Polícia Nacional paraguaia após investigação sobre homicídios naquele país.
Jackson é suspeito de envolvimento na execução de um advogado e sua namorada, ligados a um chefão das drogas no Paraguai. O casal foi assassinado com vários tiros logo após visitar um cliente na Penitenciária de Tacumbu, em Assunção (capital paraguaia). Por meio de imagens, a polícia paraguaia identificou os veículos que participaram da emboscada e os rastreou. Acabou encontrando os carros em Pedro Juan Caballero, justamente na casa onde estavam escondidos Jackson (com nome falso) e outros bandidos.
Na época, Jackson já estava investigado por 24 homicídios em Porto Alegre, grande parte deles incluindo tortura e esquartejamento das vítimas. Foi o período mais ativo da guerra entre Bala na Cara e Anti-Bala, que contribuiu para que a capital gaúcha figurasse entre as cem cidades mais violentas dentre os 4 mil municípios brasileiros, em 2017.
Expulso do Paraguai e entregue à Polícia Civil gaúcha, Jackson foi transferido para uma penitenciária de segurança máxima em Rondônia. De lá, em 2020, foi trazido de volta para o Rio Grande do Sul. A guerra nas ruas se acalmou nos últimos cinco anos, mas os crimes que a Polícia atribui a ele não prescreveram e, tudo indica, nem o poder dele sobre o submundo. Por isso a operação desta terça-feira se justifica.