O sujeito levanta de manhã e pronto...lá vem o rádio, os sites noticiosos, a TV e o jornal falarem das mazelas do país. Do "seu" país! Tão belo e tão incompreendido, pensa. Ainda mais quando ele é o chefe da nação, zeloso de seus atributos e da sua vaidade. Seria tão mais tranquilo se o povo se contentasse em ver notícias positivas dadas pelo governo, não é mesmo? É o que parece passar pela cabeça de muitos presidentes por aí, a começar pelo russo Vladimir Putin.
Na Rússia, ao que se sabe, toda a forma de mídia é censurada (a oficial e as mensagens trocadas pelo cidadão comum). Não contente com isso, o parlamento russo aprovou uma lei contra fake news e, com base nela, procuradores alinhados com o regime de Moscou conseguiram esta semana que a Justiça decrete a prisão de dois jornalistas russos que estão exilados. Ruslan Leviev, fundador do projeto de investigação independente Conflict Intelligence Team (CIT), e seu colega Michael Nacke estão com prisão preventiva e podem pegar de cinco a 10 anos de cadeia por revelarem os métodos das tropas russas na invasão da Ucrânia. Sobretudo bombardeio de civis. Mesmo no Exterior, temem por sua vida. por que será, não é mesmo?
Quanta inveja Putin deve estar despertando mundo afora, convenhamos. Na Venezuela, um colega meu, Rodrigo Lopes, foi detido para interrogatório, há pouco tempo, porque fotografou manifestações A FAVOR do presidente Nicolás Maduro. Imagine se fossem dos opositores. Foi libertado após levar horas para explicar que não é espião americano.
Já tivemos político que se recusava a ler jornais de manhã, porque lhe davam azia (palavras dele). Outro governante, curiosamente arquiinimigo desse sujeito dos males estomacais, costuma chamar de fake news toda e qualquer crítica feita pela imprensa, não importa quantas provas ela apresente. Que beleza se todos os cidadãos fossem Pollyannas, sempre propensos a acreditar na propaganda dos seus líderes e não inclinados a ouvir maledicências.
Acontece que o mundo não é conto de fadas. É sangue, suor, lágrimas, inflação, perversões. É também transar, amar, curtir o pôr-do-sol (o mais bonito, sem dúvida, em Porto Alegre), concurso de miss, praticar solidariedade e envidar esforços sobre-humanos para ajudar quem precisa. É realidade, enfim. A imprensa reflete ela. Muitas vezes erra. A mídia se equivoca muito menos por dolo (como jura a maioria dos governantes) e, sim, muito mais por falha na apuração e divulgação. Importante é o cidadão saber que jornalistas têm por missão pesquisar o que está por trás dos boatos e não propagá-los. Checar fatos e não apenas divulgar versões. Ou o cidadão vai continuar acreditando nas correntes de aplicativos de mensagens, originadas sabe-se lá de onde e com que intensões? Sem autoria conhecida, mas com alvos bem definidos.
Falo a respeito de tudo isso, neste início de semana, porque nesta terça-feira (31) um dos mais conhecidos jornalistas brasileiros, Marcelo Rech, dará palestra sobre Imprensa Livre, no Instituto Cultural Brasileiro Norte-Americano (inscrições por este link). É gratuita. Rech, colunista de GZH, dispensaria apresentações, mas vamos lá: é um globe-trotter. Cobriu o fim da União Soviética, da Iugoslávia (esteve na guerra da Croácia), guerra civil em Moçambique. Conheceu a poeira das estradas, começou no jornalismo durante a ditadura militar direitista no Brasil e fotografou os coturnos do bolivariano-esquerdista Hugo Chávez na Venezuela. Até por entender do riscado como poucos, hoje preside a Associação Nacional de Jornais (ANJ). Ele vai mostrar por que o Brasil l ocupa o 110º lugar entre 180 países, na avaliação de quanto está garantida a liberdade de atuação dos jornalistas. Vai lá e confere por que nem só de mídias sociais vive a humanidade.