Sabe a solitária, aquele tipo de cela onde o sujeito fica isolado, sem contato com o mundo exterior? Bom, não faz parte do que prega o sistema penal brasileiro, voltado para a recuperação do preso. Mas existe uma medida de apartamento drástico para apenados que comandam crimes dentro e fora das cadeias: é similar ao Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), que só é determinado pela justiça. Os 10 líderes de facções envolvidas na onda de violência que já deixou 25 mortos em Porto Alegre vão experimentar situação parecida
A Operação Fatura, desencadeada pelas autoridades penitenciárias com ajuda da Brigada Militar e a partir de investigações da Polícia Civil, determinou que esses 10 chefes de quadrilhas sejam ao máximo apartados de seus comandados. Eles irão para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), que já foi de segurança máxima, mas cujas condições se abrandaram ao longo do tempo.
Só que pelo menos 13 celas continuam com os propósitos iniciais de isolamento: são individuais. Os apenados ficam ali sozinhos, sem celular (pelo menos, em tese, no país das teses…), comem ali mesmo (sem ir a refeitório) e não conversam com colegas, como descreveu minha colega Adriana Irion em GZH.
É o mais próximo existente, no país, de algo como a cela solitária. A diferença em relação ao que é visto em filmes é que, no isolamento da Pasc, os presos podem tomar sol no pátio. Só que sozinhos, longe dos outros. As visitas também serão restringidas, inclusive as íntimas.
Aos que têm pena, bom lembrar que a matança entre bandidos resultou em toque de recolher, escolas fechadas, comércio sem atividades. Aos que falam “deixe que se matem”, necessário ressaltar que inocentes também foram atingidos: um estudante morreu e uma criança foi ferida.
Lembro, na infância, de quando travessuras eram punidas com um castigo peculiar: o “cantinho do pensamento”. A criança é colocada num canto, longe dos colegas e familiares, para pensar nas bobagens que fez. Pois me parece que a situação dos chefes de quadrilha envolvidos nos 25 assassinatos é parecida. A diferença é que não se pode chamar de bobagens os feitos a eles atribuídos.