A situação está assim: o sujeito não sabe nem ler direito, mas pilota drone. Não falo por falar. Conto essa história a partir de entrevista que o fotojornalista Ronaldo Bernardi e eu fizemos com um jovem criminoso da zona leste de Porto Alegre, que saiu dos assaltos para a menos perigosa e mais lucrativa função do submundo: fazer telentrega de drogas em presídios.
O rapaz, de 19 anos, foi aliciado pela facção do bairro onde nasceu, o Bom Jesus, para aprender a manejar drones. Criado com jogos virtuais, daí a lidar com os consoles e botões que controlam o robô voador foi uma barbada. Quando o entrevistamos, logo ao ser preso, tinha feito dezenas de entregas de celulares e cocaína no Presídio Central de Porto Alegre. Ele só cursou o Ensino Fundamental e apresenta dificuldade em ler.
As facções arregimentam adolescentes e jovens adultos criados no mundo dos videogames para o crime, sem escalas. Mais fácil e menos arriscado que empunhar uma arma. Ganham milhares de reais por mês. Vez que outra são pegos pela polícia. Alegam sempre que foi sua estreia no submundo. Só que não.
Nesta quinta-feira (17) a Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos, da Polícia Civil, prendeu um veterano criminoso que já está uma etapa adiante em sofisticação. Ele é mecânico de drones. Mantinha uma oficina, com dezenas de aparelhos. Vários deles usados para entrega de mercadorias proibidas em presídios, como os policiais descobriram. A investigação contou com ajuda de um software de uma empresa israelense, que rastreia voos.
Os policiais também usaram um drone para vigiar o piloto do crime. É a tecnologia da lei, contra a tecnologia do submundo. Reflexos de uma invenção de uso militar que ficou popularizada, inclusive entre bandidos.