Além dos riscos naturais da profissão, aquela possibilidade de um tiroteio na hora de efetuar prisões, policiais precisam ter cautela contra eventuais retaliações dos criminosos. No Rio Grande do Sul são mais raras do que em outras partes do país, mas acontecem.
Recordo como se fosse hoje a cobertura que fiz das três ondas de atentados do Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo, em 2006. Passei noites sem dormir, girando pela metrópole, paralisada por atentados a bancos, delegacias, postos da PM, da Guarda Municipal. Mais de 20 agentes da lei foram executados em três dias. Muitos de forma aleatória, fuzilados apenas porque estavam de serviço na hora em que o “bonde do terror” dos criminosos passou. Aos atentados se seguiu uma reação policial que gerou mais de 100 mortes. Algo do tipo Pena de Talião: olho por olho. Santa Catarina registrou, em 2013, algo similar, embora em escala menor.
O Rio Grande do Sul nunca viveu episódios assim, muito graças ao monitoramento constante das autoridades sobre as chefias criminosas. Foi graças a esse tipo de vigilância que as equipes comandadas pelo delegado regional Mário Souza e pelo delegado Guilherme Dill descobriram planos de traficantes de Eldorado do Sul. Eles cogitavam matar PMs, atacar viaturas e delegacias. Monitoravam os veículos policiais por meio de olheiros e de uma rede de WhatsApp. Usavam drones para vigiar a movimentação dos pontos de droga e, possivelmente, dos agentes da lei.
Um dos áudios dos chefes da quadrilha é claro:
— Se pacificamente não adiantar, tem que dar uns atentados nos fóruns e nas delegacias, passar uma madrugada.
Em boa hora a Polícia Civil desencadeou a reação desta sexta-feira (18). Os chefes e os comandados vão curtir uma temporada atrás das grades. Talvez aprendam que, acima das rivalidades, policiais se unem quando seu ofício vira alvo.